Santos FC, Barcelona, a lógica e o belo

Deu a lógica.

Assisti a seleção espanhola ganhar à última copa em que tivemos um Brasil que não foi Brasil. O mesmo se deu com o Santos no primeiro tempo do mundial.

Os admiradores do futebol brasileiro e sul-americano (exceto Paraguai) não podem jamais cobrar que sejamos defensivos, táticos ou disciplinados. Somos o time agressivo do toque de bola que desestrutura táticas. Meios-de-campo inteligentes que passam para atacantes habilidosos. Foi triste uma Argentina perder para Alemanha de 4 x 0. Jamais  concordarei com a movimentação versus talento individual. Um time deve jogar para os mais talentosos brilharem.

A beleza do Barcelona, em parte, se deve à mescla de habilidade com tática. Este futebol é elegante e altaneiro, uma dança flamenca. Mas ainda assim é futebol europeu. A idéia geral não me agrada. Prefiro a desordem, a entropia no futebol. Senão, viramos um esporte intermitente como o futebol americano. Esse tipo de jogo pensado fica melhor nos campos medidos em jardas dotados de traves do avesso.

Queremos um futebol alegre, de quem comemora chorando num tango ou samba. A frieza do Punhol ao término do jogo traduz a obviedade desse título. Provavelmente o melhor time do presente século somente seria vencido por outro que impusesse o caos com dribles desconcertantes e muita bola no chão.

O futebol europeu detém a supremacia por impor seu modelo ao mundo. Congratulações ao Boca Júniors, São Paulo e Internacional. Exemplos recentes de como irromper a lógica nos tempos do futebol milionário que mina a América. Mas temos que parar com o modelo de marcação e redução de espaços. O Santos FC representa esta esperança. Meninos que jogam sem se preocupar em não deixar o outro jogar. Não mudem o Santos FC, é uma desonra.

Parabéns pela tentativa de fazer feliz nosso futebol. Com muito orgulho vejo meu time vencer campeonatos e ser derrotado em um jogo como contra o Flamengo.
Quero o Santos jogando como o Santos. O Brasil como Brasil. Deixem a tática para o lado estressado do Atlântico.


Sobre o filme "A pele que habito", de Pedro Almodóvar

Não posso imaginar história mais intrigante. Embora previsível, o final atiçou minha necessidade em perscrutar o que temos de humano, sobretudo na formação do gênero. Ao deparar o corpo que habitamos diante do espelho, podemos experimentar um estranhamento bizarro, ao se perguntar "quem é você?". Mas e quando temos auto-imagem bem definida, fronteiras existenciais consolidadas e linhas de tendência futuras a partir de um passado coerente? E se forçados a mudar radicalmente o que somos, transpostos em um outro corpo?

A imagem que me vem à cabeça é a da pobre criatura, insanidade do Dr. Frankestein, feito a partir retalhos de cadáveres, cujo corpo adotou um cérebro que somente poderia ser acometido pela barbárie. A criatura que não pede para existir em algum momento se volta contra o criador.

E qual a motivação para a gerar uma nova criatura? Provavelmente completar o próprio buraco, motivado pela vaidade em deter um ser inferior, porém amenizando o martírio da falta de um certo algo que o completa. Mesmo um ser perfeito não pode ser completo exatamente por não deter a imperfeição. E poder é tudo que um criador quer.

Um filme agonizante. Exterioriza as renegadas vísceras que compõe nossas almas. Não explora qualquer densidade da psiquê, suficientemente vislumbrado na pele, traduzindo nossa contínua impregnação desta casca que aceitamos como identidade acima do âmago. Casca de inebriantes odores quando a queimamos, e qual desejo maior senão este fogo que arde sem se ver? E quão ilusão maior a prepotência da completude?



Diretor: Pedro Almodóvar
Elenco: Antonio Banderas, Elena Anaya, Marisa Paredes, Jan Cornet, Roberto Álamo, Blanca Suárez, Eduard Fernández, José Luis Gómez, Bárbara Lennie, Susi Sánchez
Produção: Agustín Almodóvar, Pedro Almodóvar
Roteiro: Pedro Almodóvar, baseado no livro de Thierry Jonquet
Fotografia: José Luis Alcaine
Trilha Sonora: Alberto Iglesias
Duração: 133 min.
Ano: 2011
País: Espanha
Gênero: Suspense
Cor: Colorido
Distribuidora: Paris Filmes
Estúdio: Buena Vista International / Canal + España / El Deseo S.A. / FilmNation Entertainment / Televisión Española (TVE) / World Cinema Fund
Classificação: 16 anos

Sobre o filme "Amadeus"

Nada estaria mais a altura do gênio que as próprias composições. Falam por si. Enredo, figurino, fotografia foram meras incrustações dos brilhantes fragmentos reproduzidos na bidimensional tela. Dos sentidos acreditara ser a visão o superior. Ledo equívoco, somente a audição pode trazer infinitas percepções bem além de qualquer eixo cartesiano.

Do sublime ao trágico, traz a tona uma história intensa de jovens que devem morrer jovens e de gênios que pagam o preço de viver a altura de sua envergadura. E a ironia de esgotar-se com o derradeiro requiem, talvez uma ode à própria morte. Digna dos cantos gregos, a traição não poderia ser mais apropriada. Em estonteante performance, F. Murray Abraham sorveu a vida do compositor na forma de música ao viver Antônio Salieri, fanático, confundiu a obra de Mozart com a figura de Deus mostrando-se como o veículo de Elias para a derradeira arte em leito de morte, dado que não se pode matar um eterno, apenas arrebatá-lo em meio a poeira branca.



Wolfgang Amadeus Mozart.


Título original: (Amadeus)
Lançamento: 1984 (EUA)
Direção: Milos Forman
Atores: F. Murray Abraham, Tom Hulce, Elizabeth Berridge, Simon Callow.
Duração: 158 min
Gênero: Drama

Sobre o livro "Ensaios céticos" de Bertrand Russell

Não se pode ser totalmente cético. Embora a recorrência contemporânea do tema não me surpreenda, reconheço que tais idéias ressoaram contundentes na época. Pontos de vista destituídos de dogmas parciais sobre a opinião incorrem no caminho inerente ao saber estruturado, fundamentado. Neste prisma, a propagação do marxismo enquanto fé, atrai com a manipulação de sentimentos, não com o apelo da razão, deturpando a mensagem original. O autor atribui à propaganda os danos que advém da manipulação por veículos que detém o poder. Bem antes da crítica à massificação feita pela banda Pink Floyd no aĺbum The Wall, acusa o ensino de manipular com suas falácias tendenciosas, o qual defende o governo e ataca qualquer antagonismo, conseqüentemente, manipulando a percepção histórica dos fatos.

Se tratarmos o ateísmo como dogmatismo negativo, podemos observar que sempre estaremos arraigados a alguma crença, mudando a percepção de acreditar em algo externo, alheio a nossa força, mas manipulável com orações corretas. A alternativa é centrar a crença no eu, na busca paranóica do sucesso, sempre com o pensamento da detenção do que se chama felicidade, mas na verdade não passa de uma fuga ou negação do medo.

Perdoem o "copy e cola" da Wikipédia, mas achei conveniente dogmatizá-los um pouco com o ceticismo de Bertrand Russell:
  1. Não tenhas certeza absoluta de nada.
  2. Não consideres que valha a pena proceder escondendo evidências, pois as evidências inevitavelmente virão à luz.
  3. Nunca tentes desencorajar o pensamento, pois com certeza tu terás sucesso.
  4. Quando encontrares oposição, mesmo que seja de teu cônjuge ou de tuas crianças, esforça-te para superá-la pelo argumento, e não pela autoridade, pois uma vitória dependente da autoridade é irreal e ilusória.
  5. Não tenhas respeito pela autoridade dos outros, pois há sempre autoridades contrárias a serem achadas.
  6. Não uses o poder para suprimir opiniões que consideres perniciosas, pois as opiniões irão suprimir-te.
  7. Não tenhas medo de possuir opiniões excêntricas, pois todas as opiniões hoje aceitas foram um dia consideradas excêntricas.
  8. Encontres mais prazer em desacordo inteligente do que em concordância passiva, pois, se valorizas a inteligência como deverias, o primeiro será um acordo mais profundo que a segunda.
  9. Sê escrupulosamente verdadeiro, mesmo que a verdade seja inconveniente, pois será mais inconveniente se tentares escondê-la.
  10. Não tenhas inveja daqueles que vivem num paraíso dos tolos, pois apenas um tolo o consideraria um paraíso.
 Atentem-se à bem humorada contradição do princípio "7". Rs :-)

Retalhos de mim

A tatuagem ama a pele
como a flor o cristal que a forma.
A montanha pede abrigo na íris que contempla,
bem como meu vulgo e nobre sentimento,
cobra o espaço epidérmico da colcha que te cobre.

Loucura, insensatez, estado inevitável.

Discorrer sobre o valor das coisas e as coisas de valor relembra a biblioteca do escoteiro mirim de Huguinho, Zézinho e Luizinho.
No entanto, o presente texto vai além da embalagem de iogurte inviolável. Mesmo em um país de fome miséria e incompreensão, continuamos a nos voltar restritamente ao que envolve e fascina, numa inevitável conclusão: O Brasil é tetracampeão (e penta, rs). Nos preocupamos demais com o que conhecemos, logo, o que constitui nosso mundinho, e julgamos desimportante ou amedrontador o que desconhecemos.
O fascínio, sempre ensimesmado, recai na necessidade autopreservativa em supervalorizar seu próprio mundo para justifica-lo e aceitá-lo. Triste constatação da ferrugem nas dobradiças existenciais que fariam as pessoas se permitir a abertura ao novo.
Estranhamente, àqueles que acreditam, sustentam e impõe aos ímpios, saberem algo, desconhecem que o mais importante é saber o quanto ignoram.
Não sou matemático, mas vou tentar provar parcamente tal ponto de vista com teoria dos conjuntos e teoria dos limites.
Inicialmente consideramos o conjunto "C", o conhecimento que um indivíduo pode obter, e "G" todo o conhecimento acumulado pela humanidade nos dias atuais (esqueçam Alexandria ou a destruição espanhola do conhecimento maia, inca, etc., ou seja, o conhecimento que foi acumulado mas perdeu-se). Se considerarmos que o conhecimento da humanidade é "bem grande", ou ainda "bem maior que o conhecimento de um único indivíduo", podemos dizer que a divisão de "C" e "G" (tudo bem, das cardinalidades se preferirem), nos dirá que C é "muito pequeno" comparado a "G". Um número muito pequeno é conhecido como infinitésimo.

O interessante é que muitos se vangloriam por "C", principalmente quando os quilos e quilos de títulos preenchem sua indumentária marcial chamada "currículo". Nos Brasil ainda temos o Lattes, uma espécie de vitrine acadêmica. Obviamente quanto mais quilos meu currículo tiver mais peso eu tenho sobre você, portanto, maior a minha gravidade e consequentemente a capacidade de atrair pequenos corpos celestes sem luz própria chamados alunos (de iniciação científica, especialização, mestrado, doutorado, pós-doutorado...).
Por se tratar de seres "auto"-intitulados iluminados, muitos se perdem no próprio "C", girando em torno de si. Esta limitação é embaraçosa, pois se os seres supremos se ocupam do "C", correm um sério risco de não mais penetrar no "G", e daí, qualquer um que conheça profundamente o que desconhece certamente terá explorado um universo muito maior que o maior "C" existente. Um indivíduo destes terá dimensão maior que os corpos celestes dotados de luz própria, afinal, onde mais estes corpos iriam se sustentar senão em alguma matéria distorcida que chamamos de "espaço"?
E ainda existe algo pior. Conforme ilustrado na figura, verificamos que "C" está contido em "G", ou seja, o que julgamos conhecer é passível de ser refutado (a não ser conhecimento religioso ou filosófico). Em outras palavras, um indivíduo com pensamento científico deve julgar a possibilidade de seu conhecimento constituir ignorância. Se ele tiver convicção deve deslocar os elementos deste conjunto para a parte externa de "G".
Daí, o melhor a fazer é expandir o conhecimento sobre o tamanho de nossa ignorância.
Os mecanismos de distribuição do poder baseado no "conhecimento" demonstra sua falha. Qualquer forma de poder pode ser chamada de polícia em um mundo cão, continuando a perpetuar arbitrariedades. Aparentemente, a democracia é a interessante forma de tomada de decisões, dado que advém do somatório de vários "C" (subconjuntos de "G"), e ainda alguns que contemplam em si algo do "G"-"C" (conjunto do conhecimento ignorado passível de ser explorado). Este somatório, no ato decisório, se torna um nivelamento, com grande probabilidade de corrigir distorções. A política é falha quando ignora que a democracia ocorre quando a vontade da maioria impera.
Logo, na minha modesta opinião, o maior dos filósofos foi àquele que se preocupou em demonstrar que somente podia saber que nada sabe. E ainda, pessoas que tomam decisões que afetam outras pessoas deveriam considerar sua inerente limitação e buscar saber melhor o quanto ignora explorando sua ignorância e a dos demais. Toda forma de poder exercida numa cega convicção de que se sabe algo é uma forma de viver e de morrer por nada. Não se permitir saber o que se ignora é loucura, convicção é insensatez.

Refutações são bem vindas... :-)

Sobre "o teatro mágico"

Quão fascínio exerce sobre as almas jovens o circo em amalgama com a poesia? Sede em poço profundo, sem altas pedras para se atirar, mas numa piscina de ar a saciar ávidos e fascinados olhos debaixo do telhado céu. A palavra, ferramenta, fere e forja o conceito que define a juventude: Liberdade. Acrobacias cerceadas pelo eixo, tecendo o português simples, mas do simples que bem feito toca. E nós, aspirantes, presos a este eixo, entocados nos próprios conceitos, desfalecemos em fila indiana, atrás da flauta que entoa o sonho do retorno à caverna. Se a liberdade não existe plena, sendo impossível navegar sem âncora, nos deliciamos com a ilusão da liberdade máxima.
Sim, hoje eu senti, vislumbrei um olhar fulgurante, dramático. Uma queda graciosa que me fitou, a terminar num ato seco, despejou esta liberdade em meu cálice transbordado e disse: - Engula! Este olhar traçado com lábios, dentes, pele, fulgurou, atiçou, relembrou numa trama velhas perguntas "a que viemos?", "qual mundo queremos?", "mais do mesmo ou o inesperado constante?". O novo pode existir se é movido por velhos sentimentos? Amor... que matéria entoada, reentoada, trovada, profetizada, prometida, escondida, reciclada, traduzida, depenada. Toca a canção que faz esquecer a amada, num exercício para trazê-la numa tragada.
Esquecer torna-se a fórmula para a liberdade máxima? Ou devemos viver eternamente bem diante do "apezar de"? Seremos livres quando amarmos solitariamente, despojados do amor alheio. Egoísmo? Para mergulhar no céu precisamos de um fio inextensível que nos guie no caminho de volta. A beleza da ida culmina na beleza do nada e termina na atmosfera enjaulada no tórax, que aprisona a vida dependente, ou seja, presa por vontade. Exercemos a liberdade quando a negamos para amar. E afinal, para que vivemos de poesia e circo senão para sermos livres e presos e nos enforcarmos na corda da liberdade*?




*o trexo "enforcarmos na corda da liberdade" advém do programa "provocações", Antônio Abujanra.


(Texto em elaboração)

weka - aumentar memória do modo visual

Já cansou de ver essa tela?


Basta editar o arquivo abaixo com o vi ou gedit:

sudo vi /usr/bin/weka

# default options
CLASS="weka.gui.GUIChooser"
MEMORY="2048m"
GUI=""

Se usar o vi, basta alterar a quantidade de memória pretendida com INSERT e depois sair do vi usando
[ESC] :wq

simples assim!

Sobre o livro "Cozinha Vegetariana - receitas saudáveis e naturais" e um pouco do pensamento oriental

Um presente inusitado de um amigo. Livro repleto de bons ensinamentos orientais. Quem diria que numa época em que estou demasiado atarefado por conta da qualificação teria essa grata surpresa de Krishna? Dentre os vários ensinamentos destacam-se:

  • Comer carne é anti-ecológico
Como assim? Simples. Um boi que gera 290kg de alimento aproveitavel, para tal, emprega um hectare em dois anos. Já o cultivo da soja produz 6000kg e o trigo 7000kg no mesmo espaço. Sem contar os dejetos dos frigoríficos e açougues. Porém, podemos dizer que a indústria de agrotóxicos deva ser mais poluente por demandar elementos químicos cuja purificação sabe-se-lá o que produz de resíduos. E também tal produção deva se dar pela monocultura, o que é bastante predatório para o ecossistema.
  • A alimentação é um exercício de adoração
Sim, devemos consagrar nossos alimentos. Tal prática soaria como pagã aos cristãos, já que não devemos fazê-lo após o sacrifício supremo do Cordeiro Santo. O habitual seria agradecer ao Senhor pelo pão nosso de cada dia. Porém, sob o espectro dos vedas, comer uma comida abençoada (panâda) é um exercício que demonstra devoção, dado que os alimentos escolhidos são voltados para a harmonia cujo preparo sob os auspícios do Deus único trará somente bons proventos.
  • Os orientais já pensaram na prática da "fé e obrigação" versus "fé e amor"
Este conceito que perpassa pela devoção, mostra quanto os seres que necessitam exercitar sua espiritualidade precisam evoluir. Assim, o caminho da fé primeiramente passa pela obrigação do cumprimento das prédicas religiosas. Posteriormente, conforme o indivíduo silencia seus desejos materiais e coloca seu coração (e tesouro) nas coisas divinas, liberta sua mente e pratica sua fé (e rituais advindos) pelo amor, não mais pela obrigação. Somente com o entendimento da vida e o silenciamento da mente, há serenidade para a prática indubitável de sua fé.
  • A posição deitada de barriga para cima é a posição mais difícil da Ioga
Realmente, ficar assim torna mais difícil a abstração da mente, dado que os movimentos pouco confortáveis trazem o foco para a postura muscular contribuindo para o alívio da mente.
  • A Ioga pode trazer benefícios terapêuticos
Certas posições podem ser benéficas para o movimento intestinal, funcionamento dos rins, dos pulmões, etc.

  • Matar para comer nunca é bom
Não é somente o fato de estamos matando criaturas mais próximas a nós que desabona comer carne. Os vedas reconhecem que matar vegetais também é matar. Logo, o principal argumento dos vegetarianos são as supostas toxinas, sobretudo das carnes vermelhas. Melhor assim, pois é uma arrogância considerar o dos animais superior a qualquer outro reino. Porém, gostaria de ouvir mais nutricionistas a respeito. Para mim o que ficou da leitura foi a cultura divina do comer, uma forma de harmonizar corpo e alma, centralizando o pensamento no divino. Comer além de arte passou a ser um culto.

Descobri algo, paralelamente. Para quem está no meio do caminho desta evolução espiritual, incorrer em certos pecados o torna capaz de compreender o grande pecador. Certos espiritos sensíveis entenderão e perdoarão o homicida ao partilhar da sensação de prejudicar alguém, p.ex. com uma ofensa verbal, dado que o ato lhe será tão repugnante que esta mera ofensa pesará enormemente, sujando, corrompendo sua alma, a qual deverá passar por um trajeto de purificação. Já ouvi que não existe graduação de pecado, ou seja, este é sempre qualitativo, jamais quantificável em sua grandeza. Dado isso, o resultado da purificação é o mesmo, devendo cada um encontrar o seu caminho, o qual passa pelo entendimento do sofrimento alheio evitando julgamentos.

Esta percepção do pecado não é única. Madre Tereza disse uma vez que o pecador demanda mais atenção de Deus, pois quanto mais pecados maior a misericórdia. Assim, a vida de abnegação pode representar uma facilidade para os adeptos das religiões de fundo ascético (como o cristianismo). Tal facilidade pode não representar necessariamente virtude, dado que resistir ao pecado é sempre mais difícil perto da fonte. Àquele que resiste perto da fonte certamente é um indivíduo com a fé mais consolidada, capaz de viver entre os homens como Cristo o fez, sem, contudo, incorrer nas tentações. É o máximo da virtude. O enclausuramento deve ser a saída para quem não tem força para manter-se fiel em meio às provações. Uma boa metáfora seria olhar alguém capaz de meditar no meio da avenida Paulista e outrem no alto de uma montanha deserta. Quem tem mais virtude?

Coincidentemente eu vi hoje dezenas de fiéis da denominação Universo em Desencanto, aquela mesma que teve Tim Maia como seguidor durante um período de sua vida. O que fazem as pessoas saírem de casa para pregar uma "nova" que acreditam ser "a boa"?  Certamente o que lhes faz bem merece ser espalhado. Porém são tantos deuses e teorias para responder de onde viemos e para onde vamos... neste universo quem está certo? Como se prova tais fatos? No frigir dos ovos ainda continuo acreditando que o mais importante é mostrar virtude pelo exemplo. Buscar dignificar corpo e espírito, respeitando-os com boa alimentação, boas músicas, bom entretenimento, boas leituras. Cultivar o humano sem deixar de esquecer nossa parte animal. Ampliar talentos sem enterrá-los, ou seja, ofertando-os à sociedade. Servir. Quem não vive para servir não serve para viver.

Amy and a litte bit of me

Palavras roubadas do fôlego alheio.
Denso, do cantil fundo que vertias.
Foles e candelabros jazendo
tapetes alumiando sua trama, imodéstia.

Mãos estendidas tangendo um isqueiro.
Espasmos categóricos em preces difusas,
o momento em que o universo se resume a uma ponta,
preenchendo o peito do sabor verdadeiro.

Impulsos ao brio da penumbra severa.
Flutua na fumaça que exalas, espera.
Placidez na sombra dos olhos que gemem
a espera do tácito retorno do medo, vertigem.

Traga esta caminhada enquanto há brasa,
Mesmo cem mortes são igualmente instantâneas
Do sopro que nasce à foice que vinga,
Eternidade no viso de uma idéia que vigora.

Partilha a idade dos imortais.
Bile do jovem dardejado pela poesia.
De volta à escuridão do véu, tintas que vestes
Personificas carne na carne, adormeces.

Não brotes da soul que me resta
a fuligem do timbre azedo do sax.
Gosto metálico do vinho exalado
da boca cortada, doces arestas.

Só sei que me verga um fogo sem fim,
Gélido queima, surdo adormece.
Crepitando agoniozamente no marfim
Cravada nos dentes, tua língua fenece.

Aceito a devolução do verbo desperdiçado,
amor que demais mata num tapa.
Alegorias, expectativas de uma clava
Materializada no gole, no som de tua fala.

Injusto prazer vivemos num copo,
Sem corpo nem alma, bruta espera.
Pense na inseparável condição de sós,
Nós nos cabelos, vetores, paixão infesta.

Do que sou não me resta
nada mais que a espera de
músculos e nervos articulados
numa caixa ou num par de braços.

tradutor no gtalk e igoogle

A google sempre surpreende com seus inúmeros recursos integrados...

Se você já está acostumado com o igoogle, onde acessa o facebook, twitter, gmail, agenda, notícias de forma personalidada, etc, agora pode colocar um tradutor em seu gtalk.


Como funciona?
Basta chamar para um diálogo o respectivo tradutor, por exemplo pt2en (português para inglês) e ocorre como resposta do chat a tradução.



Como instalar?
Digite o tradutor desejado no campo referente a busca por bate-papo, p.ex., en2pt@bot.talk.google.com e convide para um bate papo. O tradutor automaticamente aparecerá como um dos seus contatos do gtalk.


Mais informações

Sobre o filme "Piratas do Caribe - Navegando em Águas Misteriosas", com Johnny Depp e Penélope Cruz


Quem diria que a tônica do filme se daria nas bases religiosas e consequentemente dos mitos? E tônica é particularmente uma palavra apropriada dado que não tem lá tanto gosto, mas agrada pura ou misturada com alguna cosita mas! No caso, essas bolhinhas no céu da boca foram proporcionadas pelos temperos inerentes às boa produção da franquia (fotografia, figurino, efeitos), bem como à fidelidade aos mais sórdidos códigos das histórias piratas e mercantes até a derrocada pós Adam Smith em sua tentativa de ordenar a bagunça da riqueza das nações.

Ver um Jack Sparrow galante foi uma certa surpresa. Muita areia para ele subjugar e ser julgado por tal graciosa pirata, ai ai... Até eu a deixaria levar tudo que tenho... Inerências do gênero. Todas as mulheres tem um quê de pirata sempre a roubar-nos que temos de mais precioso na alma. Talvez não seja roubo, pois embora retirado com ardilosidade, é sempre entregue tacitamente.

A mais bela imagem advinda do filme não foi de sereias, mas o embate do cristianismo praticado no original versus o praticado pelo catolicismo (eu estenderia ao protestantismo também). No primeiro, conforme genuinamente pregado pelo Precursor, observa-se pureza de ações, fé inabalável sem vaidades ou superstições e benevolência com cada ser dotado de alma. Já o cristianismo institucionalizado incorre nos absurdos que o poder dado aos homens pode causar. Assim, a fé cega, apenas praticada mas não incutida na alma como marca do caráter, é capaz de destruir, matar, segregar, mesmo os maiores patrimônios da humanidade. Lembro com tristeza diversos eventos em que tanto a extrema fé na existência de Deus ou na sua inexistência causou danos irreparáveis, a exemplo das chacinas dos nossos índios ou mesmo na destruição vergonhosa da revolução cultural chinesa.

Felizmente com a descoberta da solução para o encurtamento dos telômeros e o manejamento do jogo apoptótico estamos próximos de encontrar o elixir da juventude ou mesmo da eternidade. Daí, com a taxa vegetativa global zerada resolveremos os problemas de habitação e econômicos, dado que todo ser humano terá profissão e não poderá mais se aposentar. Não haverá analfabetos e elevaremos o nível cultural, visto que todos teremos séculos de vida e não nos satisfaremos com sons desagradáveis ou leituras superficiais. Nesse prisma acho que os espanhóis fizeram um bom serviço. Melhor renovar a humanidade dando chance às crianças tomarem o lugar dos sábios idosos após sepulcrarem seu conhecimento.

Mas o filme não passou de uma corrida maluca, em que vence o personagem que nem lembramos o nome por ficar em segundo plano. Restou a imagem dos seres míticos, piratas míticos, tesouros míticos e outras boas histórias para contar às nossas crianças. Pena que não existem produções milionárias para vender tão bem ao mundo nosso Saci Pererê, Curupira, Iara, Tupã, etc.  Continuamos pagando bem pela inventividade dos nossos exportadores culturais anglo-falantes.



Título original: (Pirates of the Caribbean: On Stranger Tides)
Lançamento: 2011 (EUA)
Direção: Rob Marshall
Atores: Johnny Depp, Penélope Cruz, Geoffrey Rush, Ian McShane.
Duração: 137 min
Gênero: Aventura

Sobre o filme "Saturno em oposição", uma produção da França, Itália e Turquia

Próximo do findar, ainda acreditara estar o filme no começo. Não sei se estou cult demais ou de menos, mas não consegui captar a assinatura do filme, ou seja, a que veio a história, qual a justificativa ou finalidade da narrativa. As cenas se deram a esmo e não compreendi a argamassa, sequer nuances do que se pretendia dizer. P.ex., no filme Gladiador é apresentada a história de um general que vira escravo, gladiador e desafia um império. Existe uma sequência de eventos que caracterizam o filme, o que não ocorreu no presente.

Múltiplas histórias com dois pivôs. Um casal gay (ou frouxo, como captei do italiano falado) e um tradicional triângulo amoroso do marido com a bela florista. De esgueira existe uma usuária de drogas. Vejo que a pauta talvez tenha se feito em cima na nova sociedade italiana (e ocidental), múltipla, civilizada e tolerante. Por um acaso, ontem, houve a primeira união civil em massa de homossexuais no Brasil. No filme, o pai reconhece o companheiro do filho. Olha o guarda-roupa em que são compartilhadas as camisas e sapatos entre o casal, questiona sobre como foi constituído o patrimônio, constatando que formou-se uma família, reconhecendo ao cônjuge a soberania acima do seu poder decisor como pai. Tal naturalidade é bem contemporânea, chocaria mais na década de 90, não causando tanta comoção atualmente.

Já a infidelidade perpassa por uma civilidade extrema da esposa traída, a qual reconhece as inerentes fraquezas de nossa espécie mostrando que já estivera balançada por outrem durante o matrimônio, sem incorrer no impropério, é claro... "mas os homens são uns fracos mesmo, e então nós mulheres devemos relevar, né?". Se eu fosse mulher não sei se conseguiria ser machista ao ponto de pensar assim. Porém, com dois filhos talvez relevasse, mesmo morrendo por dentro. Ou talvez em nome da egoística fuga da solidão. Acho que seria inevitável evitar a corrosão, pois o afastamento de quem você ama e construiu uma vida ou o remoer da humilhante punhalada face ao retorno representaria a derrocada de qualquer possibilidade de felicidade até a terceira idade (no caso em duas décadas).

Por isso o perdão em caso de traição não constitui bom negócio àqueles que fazem como os elefantes, ou seja, não esquecem golpes desferidos. Também não funcionaria em quem possui superioridade moral para superar definitivamente a injúria, dado que a assimetria justamente dessa evolução moral, trará um descompasso para o relacionamento, desencadeando falência múltipla ao longo do tempo, pois a manutenção se dará em detrimento do moralmente superior, sempre a suportar os deslises do outro.

Daí, verificar-se o quão traiçoeiro pode ser o coração e quão tamanha virtude se faz necessária para manter-se uma relação por décadas. Qualquer sinal de instabilidade ou incerteza pode servir de linha de tendência para uma esquizofrênica perscrutação sufocante dos passos do outro. Cercear o espaço nunca é bom, pois na teoria de conjuntos sentimentais nunca o universo pode ser A união com B, ou seja, uma só carne e uma só alma. A intersecção não deve ultrapassar 50%. Acima disso descaracteriza-se o indivíduo, enfraquecendo-o. O cônjuge deve complementar, fortalecer. Mas o despeito com o individual e a despersonalização criam uma prisão conceitual, e no bom modelo freudiano da panela de pressão, diríamos que a traição representaria a válvula de escape, injustificável, mas como bons mamíferos temos que sobreviver a revelia da intricada moral superedípica.

Contra-recomendo o filme. Não passa de uma novela, superficial como todas, a qual se limita a expor fatos sem suscitar maiores embates. A finalidade é acostumar a sociedade com o que já acontece. Frequentemente jovens morrem, indivíduos sentem atração pelo mesmo sexo, pessoas usam drogas e maridos pulam a cerca. Ou seja, qualquer Manuel Carlos pode reportar fatos cotidianos como estes... Faltou o tempero rubro que apimentaria reflexões nessa massa italiana, ajudando nossas bainhas de mielina a pavimentarem saltos morais rumo à verdadeira virtude da tolerância e tomadas de decisões cordatas sem hipocrisia.

Título original: Saturno Contro
Drama / Comédia: França / Itália / Turquia, 2007, 1h50, 14 anos.
Direção: Ferzan Ozpetek
Elenco: Stefano Accorsi, Margherita Buy, Pierfrancesco Favino, Serra Yilmaz, Ambra Angiolini, Ennio Fantastichini, Luca Argentero

Sobre o filme "Meia Noite em Paris", de Woody Allen

De anacronismos metalinguísticos vai vivendo a obra de Woody Allen. Continua se (e nos) deliciando com histórias de escritores atordoados por seus livros em gestação e amores errantes como as ruas do velho continente.

Uma prosaica caminhada, dentre tantas outras que perfazem suas produções e desaguam no fantástico. Entusiástico encontro com ambientes e artistas que derretem nossa imaginação, fusão impossível, vivenciar mundos em viagens no tempo. Dissecar suas almas invejaria qualquer anatomista. Porém somente os da mesma espécime podem se entender. Assim cabe aos escritores explicarem os escritores, pintores pintores, atores atores e assim por diante.

Personagens caricatas surgem na Paris da década de 20, mais reais que nosso confortável californiano 2010, contemporaneidade sem vanguardas mas pra lá de retrô. Ao tentar viver no passado o idealizamos, tornando-o certamente o lugar preferível, prisão nesta terra de viventes, afinal, muitos confortam-se em estagnar o paraíso no intangível seja no outrora ou no devir.

Fascinante o vigorar do desimportante como importante. A compra de uma cadeira para a casa de praia ganha foco, enquanto a infidelidade recém confessada sequer franze o senho do traído, cobrado pela notória ausência e impelido a manter o plano saindo do mundinho surrealista para a derrocada na vida pragmática. Afinal, o que é mais real, a poesia ou as contas a pagar? Tudo fica no papel afinal de contas, né? Envólucros materiais...

E o fascínio das belas fêmeas? A sim, as mulheres de Allen. Sempre sedutoras, autônomas, regozijantes, brilhantes, de profissões bucólicas ou até mesmo medíocres e repletas de cultura, de opiniões simples e superiores. Eu as admiro, as desejo, compartilho esta prisão em viver neste mundo destituído destes seres míticos, desejando algo que existe somente nas mentes artísticas, destruidoras de almas. E um tapa na cara... os homens das palavras sempre tem solução para tudo... racionalizam... explicam. Não! Volte ao seu presente, realidadezinha sem estima. Eu, alma consolidada, puro ato, farei o que devo fazer, me tornar puro ato e ficar onde quero, fazendo o que quero. Porque o amo, mas amo mais ser puro ato. Fique com seus pensamentos de escritor. Escreva sua história e inexista como personagem nas páginas do próprio livro. O amo, mas que importa? O que importa o amor?

E para amar é preciso não ter medo da Morte. Brindar com a Bela companheira na campanha de uma sórdida guerra qualquer. Os covardes não amam. Amar requer coragem. Disparar contra uma fera avançando mortalmente em seu pescoço. Pintar rinocerontes. Ser a pantera de Augusto do Anjos, "...se ajoelhando, rendida ao eflúvio do teu seio casto". Concentrar o universo no contato de epidermes, no cruzamento de rimas e esquecer da vida para perder o medo da morte. Este amor em palavras justifica tudo. Desisto, melhor ser puro ato.

Título original: (Midnight in Paris)
Lançamento: 2011 (EUA, Espanha)
Direção: Woody Allen
Atores: Owen Wilson, Rachel McAdams, Kurt Fuller, Mimi Kennedy.
Duração: 100 min
Gênero: Comédia Romântica
Status: Em cartaz

Sobre o filme "A noiva cadáver", de Tim Burton


E quando o outro lado é apenas uma parte de si?

A realização, o cumprimento de uma etapa. Expor nossas entranhas da forma mais verdadeira possível. O que somos afinal senão um cabide de ossos? Perscrutamos as esferas do eu sem saber que pura e simplesmente nossa consciência não passa de uma minhoca na cabeça. Talvez seja vaidade. Afinal, não podemos ser apenas desta vil matéria. Temos que nos equiparar aos deuses, nos tornar espectros, vagar mundos fluidamente como o ar. Temos que ser eternos.

Somos eternos, mas no carbono. E nesta vida carbonada em duas vias não posso dizer qual é a cópia ou a original. Se a morte representa descarregar pesos das escápulas, prefiro a versão soul de Tim. Nos embebedar com veneno e sacudir o esqueleto com corpos semi-serrados.

E o enlace? O que representa um casamento senão anseio à geração de vida? E qual paradoxo maior senão casar com a morte? (fato bem frequente, inclusive)
E não há outra forma de fazer manutenção dos mortos sem que os vivos não se reproduzam, afinal, cadáveres não podem fazê-lo. Então, manter a população per capta dos cemitérios é nosso nobre dever, mesmo com o severo risco de assinar compromissos tácitos que comprometam toda uma vida.

Intrigante mesmo no filme foi encontrar compaixão em apenas alguém muito tempo depois de morto. Os vivos cuidando apenas de si e nossa pobre noiva cadáver, assassinada por ambição, abriu mão de seus sonhos após putrefar nobremente. A única alma generosa se fez apenas como defunto.

E para trazer sentido ao filme, minhas minhocas ecoam a música otherside de Red Hot Chili Peppers. Não há nada melhor que deslisar para o outro lado. Selar nosso pacto com a Morte generosa e benfazeja, sempre disponível quando precisamos.

Que horror... kkkk

Sobre o filme "X-men the first class"


Um filme advindo das famosas comics do X-men enfatiza a mais bela das frases, a qual representa o ápice do senso de justiça e a definitiva derrocada das perversas leis da natureza: - Posso não concordar com nenhuma palavra do que disseres, mas lutarei até a morte pelo seu direito de dizê-las.

Antes da revolução francesa ainda vivíamos, a bem dizer, num amálgama entre o  "crescei e dominai" e "olho por olho, dente por dente", e sempre sobrou uma unanimidade de cegos ou dominados.

Porém, evidentemente, nossa condensação de energia nesta forma de matéria ainda nos submete às leis da física e da natureza. Um sonho dos autores foi ilustrado exatamente por romper, ou superar tais leis ao criar seres míticos com poderes modernos e mutações que até Deus duvidaria, afinal, soltar laser pelo corpo vai além de qualquer imaginação das infinitas tentativas randômicas que a natureza faz em rearranjar moléculas e selecioná-las com a graça da competição e transmissão dos genes.

A polaridade entre o professor Xavier e nosso poderoso amigo do metal é possivelmente uma das mais belas relações criadas pela ficção. Profundos amigos, absolutamente inteligentes e sagazes, partidários de causas diametralmente opostas. E ao longo do tempo se defrontam respeitosamente num combate que envolve um aliado e, ao mesmo tempo, inimigo em comum: nós.

Neste conflito eu não consigo me posicionar. Os argumentos de ambos são bons. Em nossa mórbida história tivemos que travar guerras com os que acreditáramos serem brutos e inferiores. Assim, o Homo habilis deve ter extinto o Homo herectus, os H. sapientes os Neandertais até a próxima evolução nos destruir*. Não houve conciliação de hominídeos de espécies distintas. E se existe uma espécie com mais habilidades de sobrevivência é natural que extinga as inferiores. No entanto, a fração de sapiência que nos constitui, nos ensinou o respeito às espécimes e provou que o melhor para todos é manter os biomas trazendo equilíbrio aos ecossistemas. Assim como a retirada de Israelenses da faixa de Gaza traria paz ao local, os mutantes poderiam ter direito a tomar um pais para si, ou mesmo conviver pacificamente no mesmo ambiente que os humanos. A segregação é apenas quebrada com pelo menos três gerações. Assim, quem cresceu sob cometários racistas não mais os fará para seus filhos, os quais terão netos que sequer farão ideia deste preconceito.

Mas essa convivência pacífica é ameaçada pelo grande poder que deveria ser contido para não haver incômodas desproporções. E, assim, pediria-se aos mutantes para negar o que são, e de fato a maioria não conseguiria. O poder em si é sedutor e deveria ser estimulado, caso contrário, o ser entra em depressão. Eis o paradoxo. Apenas uma das espécies pode ser feliz.

E, dividindo essas bandeiras, não posso deixar de narrar a beleza da amizade entre águia e o boi. Vou alterar um pouco o exposto no livro "o corpo fala", de Pierre Weil, para traçar minha metáfora. A águia representa o espírito vencedor, altaneiro. Sua visão superior prega instintivamente a sobrevivência pela caça. Escolhe placidamente sua presa, e tenta fazer com que ela sequer conheça sua existência, pois não se importa com isso, subjuga-la não é importante. Apenas basta que ela esteja fatalmente em seu bico. Já o boi tem sua superioridade no espírito contemplativo, passivo, o qual entende a ordem natural das coisas e respeita o espaço metafísico de cada existência. Luta, mas não para destruir, apenas para manter a si e aos seus. Devolve o que retira da natureza e atravessa mundos, vivendo e vendo muito mais coisas do que a águia, a qual passa rápido demais pela vida. A águia é um cometa, o boi o sol. Assim, Magneto e o professor-X, respectivamente, representam os mais nobres dos tipos humanos, as mais poderosas forças. Juntos poderiam puxar qualquer ponta deste cabo-de-guerra e vencer, mas inerentemente, como ocorre no homem, uma das características, seja de boi, seja de águia, deve vigorar.

A produção do filme é impecável, fiel. Explica muito e para quem gosta, como eu, desses super poderes forçados, deve ser obrigatoriamente visto. E quem não gosta deve assistir pois histórias que envolvem contextos da guerra fria ou das guerras mundiais, também são obrigatórias. A única pergunta que ainda ficou seria a origem do capacete que barra pensamentos. Como foi feito, afinal?

Talvez esteja me posicionando agora, pois jamais devemos esquecer que nos últimos milênios em que uma determinada fatia dos homens se julgou a raça ariana, as coisas desandaram. O palavra do século é tolerância. E eu creio que toda espécie tem direito ao seu lugar, e vou alem. Não existe evolução absoluta, dado que não há superioridade em todas as características, apenas nas poucas escolhidas para segregar as espécies.


*se algum pesquisador da área vir que eu estou falando besteira por favor me corrija.

Sobre "O teorema de Fermat", Simon Singh


Um probleminha besta que qualquer criança de primeiro grau pode entender. Simples: não existe solução com números inteiros para a equação x^n+y^n=z^n, para n>2. Observe que se n=2 temos a famosa pitagórica soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa.

Prepotente, Fermat anunciara ter a resposta, porém advertiu não deixar para a posteridade por seu conteúdo não caber no rodapé de uma página. E uma brincadeira fez comichão em muitos pensadores. 

Atiçando vaidades, o tempo mostrou que não só da lógica pura e do conhecimento podem se vangloriar os matemáticos, pois a cobiça e a fama norteou muitos para a resolução deste insosso enigma.

Mas, afinal, existe abstração totalmente pura? Se nossos pensamentos advém do que captamos sensorialmente do mundo, não seria também de se esperar que nossa abstração matemática ainda se apegue a símbolos com alguma natureza concreta? Sendo assim, a matemática é também limitada e suas ampliações podem gerar provas que refutem outras, sobretudo ao variar-se o contexto. Um exemplo é o surgimento dos números irracionais, os quais não foram admitidos por se tratar de divisões imperfeitas, já que a natureza é perfeita. (ou Deus) Outro advento do absurdo foi o "zero". Não é possível trabalhar-se com a ausência, nem realizar uma divisão por nada. Hoje, podemos tratar o zero como infinitésimo e dizer que a divisão de um número por zero nos dará infinito. Mas e a dimensão do infinito? Podemos dizer que o conjunto dos números naturais tem um infinito maior do que o conjunto dos números primos. E os números complexos? Podemos calcular a raiz de dois negativo? Diante da limitação da nossa forma de expressarmos qualquer tipo de conhecimento avança quando alguém olha o problema de uma forma jamais dantes vista. 

Navegar é preciso. Expor-se ao ridículo ao trabalhar com ideias não ortodoxas é o preço pago pelos inovadores. Chegar ao limite de ingerir uma bactéria para provar sua sobrevivência no estômago, enclausurar-se sete anos para conciliar conjecturas das quais ninguém achara ser possível. Eis a beleza da ciência. Um único momento de êxtase que inunda toda uma vida. E saímos correndo nus exalando eureca!

Erigindo gloriosos obeliscos de conhecimento, o homem, que se orgulha em ser pensante, não pode deixar problemas sem solução. Paradoxalmente, a angústia insurge quando o homem não tem mais problemas de valia para resolver. A eterna insatisfação lapida a imanente necessidade da evolução submersa no conflito. Neste masoquismo, quanto mais complexo, mais instigante o problema se torna, porém, se insolúvel, logo ocorre o desinteresse. Assim, como uma boa mulher que deseja cativar seu amante, o problema deve mostrar-se tangível, mas sem deixar de ser intocável. Entreter dando pistas, carícias, mostrando o ombro, recolhendo-o, num ardiloso jogo que faz com que o seduzido se sinta próximo da realização de seu desejo, sem, contudo, completá-lo. Renovar as esperanças quando esta parece distante. Inebriar ardilosamente. Perfazer a espera de uma porta que ficara a vida toda a espera do único dono, deixando-o moribundo ao primeiro gesto da carcomida mão sobrerguida sobre a maçaneta.

Nove dias

Estou de luto.

Não aquele luto da viúva que veste um obrigatório preto por quarenta dias, mas um luto que veste o peito de um amigo amargo.
Este gosto, amargo, compartilha do cinéreo efeito do desgosto.
Agora jaz intacto, numa imobilidade sórdida, incompreensível.
Sinto-me claustrofobicamente ao teu lado, aguardando o que não ocorrerá.
O quanto tal estatiscidade me incomoda!
Depois de nove dias entro naquele corredor. A sala de trabalho nunca esteve tão fria. Apenas reflexo da tua lívida face.
Estou de luto por um amigo. Não sei por quanto tempo, pois o luto me chama e eu não sou mais o mesmo.
Estou de luto por um sonhador, tal como eu, de sonhos cintilantes, que resplandecem do talento.
A roda-viva do mundo girou. Questionamentos, tristeza, vazio, nada o fará mover-se. Apenas tuas ideias podem permanecer vivas enquanto estiverem naqueles que as lembrarem e perseguirem.
Agora você é equilíbrio e muitos de nós desajuste.
Estou de luto, não sei por quanto tempo, talvez até desvendar o mais óbvio e intrigante sortilégio da vida.
Jovens não deviam morrer.



Texto escrito nove dias após o falecimento do amigo e colega de iniciação científica, Luiz Eduardo (29/08/2005).

completude na incompletude

Na busca pela completude alguns indivíduos consideram que tal fato apenas ocorrerá ao encontrar um outro alguém. Para atingir a completude, esse alguém deveria suprir as deficiências do outro. Assim,
deveria-se buscar relacionamentos com indivíduos dotados de qualidades plenamente antagônicas.
No entanto, o complemento pode ocorrer pela somação de características em comum. Nesse ponto de vista os indivíduos se completarão relacionando-se com alguém mais semelhante possível.
Porém, mesmo ao encontrar o indivíduo almejado, a completeza plena é possível? Para responder essa pergunta é necessário conceituar completeza.

Segundo a mitologia grega, os homens tinham quatro braços e pernas e duas cabeças. Porém, temendo esse grande poder os deuses decidiram dividir os homens que desde então procuram a metade perdida.

Provavelmente esta busca seja fruto evolutivo ou social. Não se gera indivíduos assexuadamente, sendo forte o referencial do relacionamento vivenciado pela criança através da observação dos pais ou mesmo antes com o contato materno inerente aos mamíferos. Com o surgimento dos hormônios as relações impelem à aproximação sexual. Porém, devido a proeminente capacidade cerebral  os indivíduos são impelidos também a nutrir sentimentos e a ideia de construção de alicerces que posicionem enquanto animais sociais.

Ao ser dotados de passionalidade e intuição, o ser humano julga que a sensação de completeza ocorre quando se é visto no outro reciprocamente. A troca de experiências cotidianas e um projeto em comum fomentam a confiança. Dai a completeza nasce ou se concretiza na segurança.

Num mundo em que é priorizado o prazer individual, a sensação de completeza é ameaçada por qualquer oscilação em um dos indivíduos. Pequenas insatisfações podem fazer com que o outro se sinta ameaçado. Os planos podem ser feridos e uma mínima quebra na harmonia pode destituir esse prazer imediato causando o rompimento. Ao se incorrer em diversos relacionamentos a insegurança prévia aumenta, causando mais expectativa para a próxima tentativa forçando o casal a gastar mais energia, gerando frustrações maiores, proporcionais ao investimento.

Mesmo num mundo ideal, por mais entrosado que um casal seja, não se comportarão de forma uníssona como um corpo apenas. São dois indivíduos distintos que se interagem como casal. O ser contempla-se em si somente. Não existe ser fora do ser, logo, o outro é não-ser, portanto, não pode delimitar fronteiras de um outro ser. O que define um indivíduo é fruto apenas de si, da percepção e predileções cuja influência externa ocorre exclusivamente em função do próprio indivíduo.

Para suprir a necessidade de completude o indivíduo deve traçar suas fronteiras existenciais, bastando a si próprio. Deve estar seguro dos seus objetivos e do que o caracteriza, seguro de seus limites entenderá que não modificará as bases existenciais de outrem. O relacionamento será o caminhar paralelo de duas existências distintas. Estes caminhos seguirão na mesma direção enquanto cada um individualmente mantiver as características que delimitam seu ser.

Ainda assim,  delimitar as fronteiras de si não significa completude. Na verdade a completude não existe, visto que somos um eterno devir, sempre deixando de ser e se tornando algo ligeiramente diferente a cada momento. Notem que até agora referiu-se à completude enquanto sensação, porém se ela fosse atingida haveria estagnação no tempo e no espaço, a existência se resumiria a um estático presente.

Porém, ao ser individualmente completo, não haveria a necessidade de se relacionar. Sendo a completude intangível per se, devemos buscar a sensação, a qual, conforme exposto, é um esforço individual. Esta sensação fundamenta alicerces para o fortalecimento que impele a admitir certa incompletude na completude, sem abalar-se ou mesmo deturpar a compreensão de si em função desta abertura. Ocorre, destarte, a busca pelo outro. Se o mesmo processo ocorrer em ambos, haverá uma caminhada paralela amadurecida, fundamentada na eterna incompletude de seres cientes da própria completude.

Textos complementares:
Mediastino
Aqueronte seco
Sublimação
Sobre "Noites brancas", Dostoiévski

Sobre o filme "De repente 30", com Jennifer Garner

Eu não vivi a década de 80. Nasci nela e em pouco tempo atravessarei a fronteira dos 30, assim posso afirmar que nalgum balanço pra lá e pra cá já esteja vivenciando os 30, bem como vivenciei algum sopro de 1980. Afinal, a década de 90 não passou da tentativa da despersonificação e destruição de muros. Foi bom, porém uma boa proposta de demolição deve vir acompanhada da construção de um projeto melhor. Faltou a segunda parte.

Eu cresci sendo incutido de temores relacionados a competitividade profissional, desemprego e desesperança na economia e no pais. Com o tempo as coisas foram se estabilizando e ganhei meu espaço ao sol bem como o Brasil no mundo.
Pensando nos eventos nostálgicos trazidos pelo filme eu poderia enumerar uma série de pequenas cenas, sons e objetos que só de olhar daria para marear os olhos.
No entanto o principal viés dessa história é a lição de moral aos adultos de índole duvidosa a qual pergunta: - Você faria isso se tivesse treze anos?  Ainda existe certa ingenuidade nos que tem treze hoje? E será que os trintões da década de oitenta foram mais gente boa que os trinta de hoje?

Sim, estamos num mundo maior onde os espaços foram diminuindo. As tecnologias passaram a traçar irreversivelmente nossa trajetória urbana de afastamento da natureza. Já outrora manchávamos com corantes nossas línguas apetecendo-nos de artificiais sabores que nem mais precisavam copiar a natureza. Fumávamos chocolate e já tomávamos pílulas ao invés de tradicionais chás e também tínhamos a televisão para uniformizar a moda e modismos.

Ainda restaria uma última fronteira a destruir. Com o fim da mais barroca das décadas exterminaríamos o romantismo do cortejo e conquista instaurando de vez a praticidade nos relacionamentos. Nesta época os namoros já se tornaram mais curtos e os casamentos deixaram de ser pactos eternos, afinal, love is a battlefield. Hoje, apenas contribuímos com o arcabouço moral para impedir dedos apontados, o que de fato está bastante reduzido, pois poucos se sentem suficientemente elevados para dar lições de moral.

Realmente não sei se o mundo ficou melhor com Cindy Lauper ou Kesha, com Atari ou X-box, com del rey ou corsa, com a guerra fria ou xiitas. Eu sei que se aos treze visse o que sou hoje me orgulharia, pois apesar da contra-maré, acho que virei um cara legal bem como muita gente que vi crescer. Curiosamente aos treze fui mais conservador, hoje a flexibilidade me norteia. Com estranhamento constato que não nadei no Tiete bem como meus avós não tiveram um estojo de robô com um monte de compartimentos, tão pouco vejo crianças hoje subindo árvores e pegando frutas no quintal de vizinhos como fiz, bem como eu não tive um game portátil que acessasse a internet. Talvez exatamente por isso não considero que minha época tenha sido melhor que as de outrora ou as vindouras. Não pode ser melhor ou pior pois minha época é agora, e meu lugar aqui. Talvez por não precisar nada disso e desfrutar de cada época o seu melhor. E sim, é muito bom ir numa festa e ouvir Kesha seguida por Cindy Lauper. ;-)

Sublimação


Entre a coragem da fuga
e a covardia da mudança.
Preencher o sentimento repleto
com o vazio do vago encefálico cordato.
Não contar as horas para ver-te
com números irracionais proibidos.
Não devanear tocar-te
por sentar em calçadas concretadas.
Imaginar o macio da tez
fragmentada na brita.
O sol da manhã a banhar sua íris
na forja do aço.
Lágrimas vertidas como chuva
fria sem abrigo.
Timbres de pássaros
em fumaça de escapamentos.
Respirar-te
tendo asbesto no tórax.
Na saciedade ter como severo amigo a fome.
No desfalecimento a epifania.
Na semente o desmatamento.
Sim, este sentimento grego amianto
deve ser sublimado à pragmática telha.
Não se queixe das estrelas que perfuram o zinco e benfazejam o chão.
Nem desdenhe a valsa sem par.
Negue a ordem natural e salte estados.
Não sonhe, sublime.
Eleve-se ao estado dos deuses, rejeite o mais nobre dos sentimentos.
Afinal, se fosse nobre bastaria a si só.
Mas se bastasse a si só, seria impropério dedicar a outro.
Eis o enigma maior a interpor-se
entre o que devora e quem decifra.

Textos complementares:
Mediastino
Aqueronte seco
completude na incompletude
Sobre "Noites brancas", Dostoiévki

Sobre "Sagarana - A volta do marido pródigo", João Guimarães Rosa

Existe mistura possível entre amor e política? Desculpem a rasteirice do comentário: - O cara teve a manha!
Um marido pródigo com uma esposa pródiga. Vá! Ganhe seu quinhão ao escusamente vender sua mulher, torre-o rumo ao sonho do litoral e retorne ao interiorzão sob a benevolência dos homens. Mais um frágil caráter a se fazer na bondade alheia. Mas que dá raiva, dá, ver malandro se dar bem.

Tome tento seu moço! Isso é história para se escrever? É por isso que não dá certo homem ser certo. Quer manter sua mulher e seu emprego? Seja inventivamente cafajeste. Moral invertida? Bem... o intento era atiçar. Logrado!

Nosso brasileirismo fala mais alto. A mesma displicente forma de lidar com a política se estende ao amor. Agimos em prol dos nossos, tentamos comprar opositores antes de meter chumbo se necessário. Perpetuando a ideia do "se não é meu, não será de mais ninguém", "se não tá comigo, tá contra".

Não posso deixar de notar a beleza da descrição histórica de um modo de ser fazer política, nos idos da falta de tecnologia, onde o corpo-a-corpo vigorou como única forma de promoção. Onde favores e cabrestos ainda eram mais importantes que barba feita e terno italiano. Ficamos mais apegados a aparência e menos pragmáticos desdenhando nosso ganho a curto prazo? Com a disseminação do sufrágio em um país como o nosso resta apenas à maioria escolher seus políticos tal qual escolhem seus amores: apenas pela beleza! Afinal como votar na Marina e no Serra? Se o Aécio fosse o candidato certamente ganharia sob o efeito Collor. Será que a Dilma dá um caldo? Ok, estou forçando a barra. Mas duvido muito que ao escolher seus amores as pessoas verificam seu passado político e a coerência das correntes de pensamento que pretendem implementar. As escolhas acabam ficando nas superficiais impressões.

Essa história me deixou aturdido e jocoso. Prefiro aquela versão do malandro fugindo do garçom, usineiro e ianque por não pagar a cana da resseção do Brasil. Mas malando que é malandro tem costas largas e escorrega mais que quiabo. Balança nesta rede macia de pequenas tramoias, deixando com os Sr. Malandrões os grandes esquemas, concedendo-lhes o direito de putrefar suas próstatas sentados no poder. Felinos, lambendo a sujeira um dos outros. E a pobre gente de bem deve docemente cuvar-se sob suas bençãos, já que apenas podem cuidar de suas relações alcunhadas amorosas.

Sobre o Filme "Thor", dirigido por Kenneth Branagh


O que você acharia da história de um nórdico, loiro, alto, musculoso e bem definido que viaja pelo arco-íris com seus amiguinhos usando roupas totalmente fashion e uma capinha da moda? Hum? Uma historinha totalmente gay, certo? E se eu disser que ele é um super herói que voa e tem um martelo? Sem graça, né?

Bom... mas eles conseguiram!!! Trouxeram a mesma coerência das narrativas verificadas em versões contemporâneas como Batman Begins, Super-homem, Homem-aranha, Iron man, Hulk, etc. As histórias originais abusavam do bom senso do expectador se tornando mais difícil engolir diante dos desdobramentos da ciência e da tecnologia. Assim, as novas roupagens felizmente revitalizaram misturando física e biotecnologia, afinal, não somos mais tão ingênuos.

Dentre as melhorias nota-se a transposição de Asgard para outro planeta e a transformação da ponte do arco-íris em um worm-role capaz de fazer a dobra do tempo e do espaço para um transporte muito mais coerente que o da jornada nas estrelas. A própria ironia em não negar os ares ridículos da história fazem do filme algo que valha a pena ser assistido.

Sim, Odim, o grande e sábio Deus, foi também um grande pai ao exilar seu filho como um pobre mortal no planetinha Terra. Daí retiramos a moral. Uma mensagem para os nobres e poderosos filhos de bons papais que mimados obtém tudo e se consideram herdeiros legítimos de impérios que não construíram. Odim ensinou a Thor que haverá sim a herança, mas desde que haja méritos. E tendo Odim como Anthony Hopkins, sempre terei a sensação que ele morderá a bochecha de alguém. Isso impõe respeito.

E como não poderia deixar de faltar em histórias de sucessão, temos o irmão invejoso. E sim, de forma muito original ele quase ouviria: - Eu sou seu pai! Nãaaaao... e dispararia espadas a laser em espaçonaves... opa... errei o filme. Desculpem. Mas sei lá... os habitantes de Asgard são tão poderosos que fiquei com dó dos habitantes gelados do outro mundo. Eu até torcia para a paz reinar entre eles. Talvez quando o filho pródigo retornar como rei de lá no segundo filme. Eu não duvidaria nada.

Assisti em 3D, mas se fizer falta não gastem seu dinheiro com isso. Até Alice no País das Maravilhas tem efeitos melhores quanto a este recurso. Mas o filme tem sua beleza que vale a telona. Não desperdicem seu dinheiro e sua saída com outros gêneros. Deixem as comédias românticas para ver em DVD com a patroa antes de uma linda tarde de amor. Esse tipo de filme merece um bom encosto de shopping.

Outro fato interessante é a cientista gata. Sim, isso é tão bom quando acontece, não? Principalmente para quem vive neste meio. E mais legal ainda, ela é muito inteligente e idealista. Perfeito. E se manterá fiel ao nosso nobre e valente guerreiro do martelo, que voltará a Terra no segundo filme depois de perder sua bola de vôlei e a encontrará com filho e marido.

Sim. Uma roupagem que lhe caiu bem. Uma moral de história batida na pedra do rio, passada e engomada. Uma boa surpresa como Iron Man. Histórias meio batidas que bem vendidas até compramos.

Mediastino

Face-a-face com a morte deseja-se a vida. Quando o gélido peito exala vapores e cristais deseja-se a chama. Numa cavidade que dimensiona o ser pode caber o tudo e o nada. O abissal ou um punho. Mas e quando a não esperança nos faz desejar a morte? Quando o conforto da hipotermia docemente leva as forças tragando-nos ao despenhadeiro do mediastino? É nobre o desejo de retornarmos ao âmago uterino, ao conforto da posição fetal, afinal, viver significa ir em direção à morte pelo outro lado.
Certo. Não pode haver nobreza na covardia em retroceder. Mas e interromper o curso da vida? Morrer como o poeta jovem? Na gota de sangue em que o cálice se quebra? Curiosamente nasce do preto e do branco o rubro que permeia a importância do mediastino. Sim. Esse abismo abriga um órgão cuja função é dar partida e encerrar a vida. E nos mostrar vivos e disparar e torcer e rodopiar e... finalmente parar.
Somente quem conheceu o sofrimento está preparado para a felicidade. Somente quem desejou a morte é digno da vida que recebeu. Não existe o reconhecimento sem a falta. A completude jaz na incompletude. A felicidade última do ser consiste em amar. Sendo assim, o amor a cada um deve bastar.
Possivelmente para amar deve-se esvaziar o mediastino e torna-lo o maior dos abismos, para, destarte, caber o sol. Sim, o sol. O mesmo sol que queima trás a vida. O mesmo frio que congela é o que doma o sol. A morte motor da vida. Para seduzir a chama é preciso conhecer o glacial. Mais que isso, é preciso conviver com lava na Sibéria. Domar seus cães e correr o deserto de si. Qual o rumo? O do acaso do mediastino abissal de um outro preparado para o acalanto da vida e o acalentar morte. E este percurso, meus amigos, remonta a melhor das sensações, o convívio harmônico das quatro estações no peito de quem ora colhe flores, ora incinera o jardim, semeando-o a aspirar sabiamente seu retorno.

Textos complementares:
completude na incompletude
Aqueronte seco
Sublimação
Sobre "Noites brancas", Dostoiévki

Aqueronte seco


Deixo-te no exílio da minha ausência.
Levo-te comigo onipresentemente.
Bruta flor a te querer, anuência.
Falácia, sem sono e dormente.

Buraco inventado que seduz.
No vão abrigo inexistente
Do alvitrado sentimento que reluz,
Seu espectro transcorre penitente.

Recíproca morte proposta,
Cujo coração seco bate só.
Viga dardejada exposta.
Ecoa no vago, lancinante curió.

Penetra nas entranhas virgens.
Choraminga guitarra, juventude atávica.
Petrifica neste amor miragens,
O sentir enobrece como mágica.

Sou completo, tu não és, fenômeno.
Vivifica, alumiando o precipício.
Ador cujo prazer em coração nascido
Navega o Aqueronte rumo ao Elísio.

Textos complementares:
Mediastino
completude na incompletude
Sublimação
Sobre "Noites brancas", Dostoiévki

Sobre o filme "Eu, robô", escrito por Isaac Asimov

É possível um algorítimo determinístico minimamente complexo retornar sempre a mesma resposta quando compilado ao infinito em face da inerente deterioração do hardware com o  tempo? Eis ai a chave para a falha dos sistemas artificiais dotados de personalidade. Mesmo um algoritmo exato pode variar devido às restrições que o mundo físico lhe impõe.

Considerando, ainda, as limitações dos processos estocásticos verificaremos que as decisões tomadas com base na probabilidade atravessam a penalização da necessidade da boa escolha dos atributos corretos, algo jamais garantido (0<p<1 :-) ). Assim, um robô impelido a escolher entre salvar um policial com probabilidade de 0,4 ou uma criança com chance de sobrevivência de 0,11 opta pelo primeiro, pois para salvar os dois a probabilidade resultante seria 0,4x0,11=0,044 ou 4,4%. Porém, um ser humano jamais faria estes cálculos no calor do momento, sendo sua reação imprevisível.

O quanto as variações das respostas padrão são importantes? Não sou biólogo e posso estar dando um exemplo falho. Mas vamos imaginar qual é a vantagem evolutiva de um indivíduo ter variações sanguíneas (por. ex. no sistema AOB ou Rh positivo ou negativo). Digamos que não haja motivo aparente para isso. Mas e se no mesmo locus gênico em que a variação sanguínea ocorre houver uma expressão que indique uma variabilidade da resposta imune a certos tipos agentes estranhos como vírus? Então uma dada população teria uma parcela dos seus indivíduos resistente e haveria sobreviventes em uma epidemia. Ou seja, uma variação sem correlação em uma característica de uma espécie pode colaborar em um outro advento.

Variações ilógicas ou dispendiosas não ocorreriam em máquinas dotadas de sistemas algorítmicos previsíveis. Me arrisco a dizer (risco sério, afinal, não sou cientista da computação) que mesmo autômatos bem elaborados recaem em algum tipo de comportamento modal, pois não existe comportamento complexo o suficiente que não possa ser mapeado e previsto. A não ser que criemos máquinas com algum grau de aleatoriedade em sua vida útil. Aí sim teríamos muitas mortes e sobrevivência dos mais adaptados. Pois não imagino uma inteligência controlando a evolução ainda mais no nível intracelular, onde teoricamente as mutações se desenvolvem.

Mesmo algoritmos dispostos a evoluir, o farão de forma potencialmente previsíveis. E isso na natureza não pode ocorrer com a lógica centrada no indivíduo. Ainda que computadores se conectem em rede para a compartilhamento das múltiplas variações do ambiente detectadas causando distorções e aleatoriedades para aumentar a variabilidade ainda serão subordinados às próprias limitações da físicas.

Se sistemas não inteligentes podem evoluir para sistemas inteligentes, então simplesmente tudo que disse não vem ao caso, afinal, estamos falando apenas de modelos. Um empregando as quatro ligações do carbono e o outro o do silício... Um usando alfabeto de quatro letras (CGAT) e outro usando o binário (01). E assim, ao criar máquinas que se repliquem com pequenas variações ao acaso e possam gerar populações que evoluam comportamento, sim, estaremos gerando vida, pois não importa o lego que você ou Deus usou.

Mas falando como criadores de máquinas subservientes, cujas leis
  • 1ª lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal.
  • 2ª lei: Um robô deve obedecer as ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei.
  • 3ª lei: Um robô deve proteger sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou a Segunda Lei.
não podem ser feridas, certamente não estaríamos falando de seres vivos, cuja limitação é apenas uma variação da terceira lei. Sendo assim, são meras máquinas, ferramentas. Perdeu a graça o assunto...

A morte do adulto e a venda da juventude

Com a invenção do modelo contemporâneo da juventude nos anos 60-70 nos defrontamos com um sedutor panorama onde todos querem ser jovens. Hoje, apenas não são as crianças em tenra idade e os velhos bem prostrados. Ou seja, em limites extremos a juventude pode iniciar aos 10-12 e terminar aos 80, p.ex.


Para deixar claro, quando digo jovem falo do modelo que envolve toda uma temática de vida em que se fazem presente pelo menos duas características que giram em torno de festas, álcool, músicas, moda, estética e eventos caracterizados como "jovens"

E o estereótipo do adulto se diluiu para os nascidos a partir da década de 60. Afinal, essa geração lutou para exercer seu direito a liberdade do deslocamento, do corpo e de opinião, sendo esta última a mais enfática, já que os jovens inerentemente não eram dotados ou não poderiam ter voz. É importante dizer que antes disso provavelmente muitos já se tornavam adultos aos 16 anos e tinham até 2/3 da expectativa de vida que temos nesse início de século XXI. O que podemos levantar do que se entendeu por adulto seria aquele que largou os sonhos juvenis de lado e passou a construir uma vida que gira em torno da manutenção da sua família e prole, sendo permitido poucos prazeres como a cachaça e o futebol. No entanto um bom pai de família adulto deveria voltar diretamente para casa depois do trabalho, sendo mal visto retornao ao lar com ares etanólicos ou odores femininos suspeitos. Melhor ainda se levar seus filhos à igreja aos domingos. Ás mulheres invariavelmente nenhum prazer era lícito.

Foi uma sociedade bastante preocupada com a opinião alheia, afinal, não se conseguiria manter anonimato em função da diminuta quantidade de vizinhos. Sendo necessário exercer uma boa aparência e mostrar bons costumes criando-se uma etiqueta postiça, vigorosamente questionada pelos jovens que a romperam. Todo formalismo deveria ser destruído, incluindo na música, com as dissonâncias do rock, vestimentas com a difusão de estampas psicodélicas, cabelos, vocabulários, etc. Ter a atitude de jovem passou a ser contrariar o comportamento passivo dos adultos. Foi o combate ao cinza dos ternos, graxa dos sapatos e sutiãs em maternos.

No entanto, estes jovens hoje tem a idade dos pais que combateram. Tem filhos e os criaram tentando ser amigos, não sendo pais "chatos". Tiveram que arrumar empregos e vender suas almas para o diabo. Muitos obtiveram sucesso ao conseguir se manter no mundo jovem que criaram. É bastante comum os alto-quarentões em boites, shows, academias, etc. Afinal, os jovens são eles. Eles lutaram contra seus pais para poderem chegar depois das 22h. As meninas fizeram sexo antes do casamento morrendo de medo de represálias sociais ou
religiosas. E as tatuagens? Conquistas com muita luta.

Porém, tudo isso ficou velho. As músicas boas, polêmicas e execráveis são clássicos. E quando queremos ir a um bom show temos que contar com os Beatles, Janis Joplin, Rolling Stones, Caetano, Chico... tudo velho.

E nós, jovens, acreditando ser o padrão, acreditando estar vendendo comportamento, na verdade estamos comprando um comportamento de "velhos". Somos conservadores desse modelo, desfrutamos da total liberdade sem questionar de onde veio e para onde vamos. Sem criar nosso próprio modelo de juventude. Mudamos apenas a roupagem tecnológica para nos sentirmos mais confortáveis. Antropofagia mal feita deste estilo de vida.

E muitos conservadores olham com desdém para esses "peles enrugadas" vestindo preto e tatuagem curtindo uma boa balada. Estes velhos estão sendo o que sempre foram, e nós taxando-os e copiando seu comportamento.

Embora o texto acima seja agressivo, eu prefiro feri-lo contradizendo o que disse. Se hoje subversão significar usar roupa social, falar gramaticalmente correto, ter um bom emprego, não sair e levar os filhos para a igreja aos domingos eu digo que é bem melhor ser conservador e seguir o modelo dos adultos-jovens. Afinal, para que questionar, não é mesmo? Prefiro abdicar de ser jovem, colocar-me a venda com uma venda.