Ocaso existencial, noite cristalizada. Dante, Homero, Byron, Shakespeare, Hugo. Inspiradores da morte bela e nefasta que pousa à face do poeta errante, quebra a taça do vinho inebriante, corta o seio da donzela arfante. O bem do século.
Estar perto da foice é aspirar filosofia. Tabaco, ou ópio, para poucos, almas sensíveis. Na espuma, bruma. Nos arcanos, mitos. Nas Ilíadas, comédias divinas. Na miséria, na nobre pujança do mendicante.
Atire-se para a lua inquisidora, beije-a como no frenesi da amada esfera cerúlea. Pousa, acomoda sua pena nesta alva atmosfera plana. Beijo e liturgia. Vida e agonia.
Deuses do Olimpo, acrópoles aéreas, quadrilátero Paternon, Hádes fantasmagórico queimem na gélida chama da inexistência.
A força está na pena. Perdoem-me os camonianos.
Sobre o filme "Mary and Max", escrito e dirigido por Adam Elliot
Da distância emblemática de eixos, unindo zênite e nadir. Uma amizade narrada em stop motion, concretizando nossa ilusória noção do devir em degraus que impõe o formato de escada ao tempo.
Gestos randômicos cruzam calçadas existenciais ainda que postumamente. Da vida colhida da sempre presente morte um fato extraordinário: somos imperfeitos.
A figura da normalidade rotula em diagnósticos personalidades marcadas por substâncias desfigurantes como diazepam, leite condensado, formaldeído, chocolate ou etanol. Nas soluções para os conflitos inventados do que se vê além do espelho, marcas. Marcas que dizem o que somos tanto quanto máscaras. E vesti-las pode ser doloroso, mas retirá-las pode ser pior.
Marcadamente em tons cinéreos, numa monocromia que perfaz a vida, esta obra ilustra os descaminhos da perseguição deste único objetivo que é vingar uma amizade. Outras pequenas e simples conquistas como completar a coleção de bonecos dos seus personagens favoritos, ganhar na loteria ou se formar em uma universidade e escrever um aclamado livro tornam-se apenas ornamentos de um caminho repleto de pontas de cigarro, rachaduras e cascas de bananas.
Os homens que ao pensar acreditam existir frequentemente esquecem quão universal e singular pode ser uma amizade. Valores estéticos nada se comparam com o preenchimento de uma alma. Muitos se acham amigos de seu cônjuge, outros Deus. Há ainda aqueles a debruçar em seus gatos. É inefável o fato que somos seres isolados, independentes. E não existe o não-eu fora do eu, pois o eu deve negar a negação do eu. Eis a ilusão da amizade. Acreditar que o outro pode enxergar você, quando na verdade enxerga a si próprio em você.
Ainda assim é reconfortante ter olhos apontados para você. Achar conexões consigo mesmo em outro manequim. Abraçar seu abraço nos braços de outro. Pois ao afagar um cabelo a mão também é acariciada. Suas lágrimas podem trazer a felicidade de preencher o rosto do outro incapaz de vertê-las.
Um filme direto, psiquiátrico, de belíssima imagem e sonoplastia. Uma obra prima para pendurar em uma galeria e admirar durante gerações.
Gestos randômicos cruzam calçadas existenciais ainda que postumamente. Da vida colhida da sempre presente morte um fato extraordinário: somos imperfeitos.
A figura da normalidade rotula em diagnósticos personalidades marcadas por substâncias desfigurantes como diazepam, leite condensado, formaldeído, chocolate ou etanol. Nas soluções para os conflitos inventados do que se vê além do espelho, marcas. Marcas que dizem o que somos tanto quanto máscaras. E vesti-las pode ser doloroso, mas retirá-las pode ser pior.
Marcadamente em tons cinéreos, numa monocromia que perfaz a vida, esta obra ilustra os descaminhos da perseguição deste único objetivo que é vingar uma amizade. Outras pequenas e simples conquistas como completar a coleção de bonecos dos seus personagens favoritos, ganhar na loteria ou se formar em uma universidade e escrever um aclamado livro tornam-se apenas ornamentos de um caminho repleto de pontas de cigarro, rachaduras e cascas de bananas.
Os homens que ao pensar acreditam existir frequentemente esquecem quão universal e singular pode ser uma amizade. Valores estéticos nada se comparam com o preenchimento de uma alma. Muitos se acham amigos de seu cônjuge, outros Deus. Há ainda aqueles a debruçar em seus gatos. É inefável o fato que somos seres isolados, independentes. E não existe o não-eu fora do eu, pois o eu deve negar a negação do eu. Eis a ilusão da amizade. Acreditar que o outro pode enxergar você, quando na verdade enxerga a si próprio em você.
Ainda assim é reconfortante ter olhos apontados para você. Achar conexões consigo mesmo em outro manequim. Abraçar seu abraço nos braços de outro. Pois ao afagar um cabelo a mão também é acariciada. Suas lágrimas podem trazer a felicidade de preencher o rosto do outro incapaz de vertê-las.
Um filme direto, psiquiátrico, de belíssima imagem e sonoplastia. Uma obra prima para pendurar em uma galeria e admirar durante gerações.
Odisseia pueril - parte 5
parte 1 parte 2 parte 3 parte 4 parte 5 parte 6
Perco a dama, como sempre
A observo, fujo de seu olhar.
Ao cair do cavalo desfaleço.
Xeque-mate! Precoce findar.
Indago, que bruto sentimento!
Será este que arde sem se ver?
Se não o vejo, portanto, é traiçoeiro.
Ergueu-se imperioso com seu nevoeiro.
A carne falha e viciosa
Deleita-se com saliva e calor
Na orgia funda e pecaminosa
Fulgurante desejo, derradeiro fragor.
Perco-te a cada dia que finda.
Somente tua imagem na retina.
Brada o mar e seu eterno murmúreo
És intangível como o horizonte cerúleo.
Padecimentos, afrontas sem explicação.
Milhões de seres em mim, uma nação.
Entre heróicos e covardes apáticos.
Moldam-me amorfo, poderoso e fraco.
Como pode tamanha devoção?
O sono mirra sem te-la nos pensamentos.
Salvo-te de mil perigos e enfrentamentos.
Do corcel altivo dou-te proteção.
Abraça-me o caminho é longo.
Aurora nova refletindo sua íris.
Arrebol airoso, face de Ísis.
Amor galopante, vermelho congo.
Emanas o vistoso acalentar
Gotejas o copioso estremecer.
Erupções de esmeraldas, seu olhar.
Incandescentes volúpias, fenecer.
E admirando vejo-a construir um lar.
Do ventre vem surgindo o mundo.
Nas tormentas sempre a vagar,
Resolvendo a vida sigo rotundo.
Sobre "O cortiço", Aluísio Azevedo
Um naturalismo não tão naturalista, mas retrata fielmente uma época que não findou: brasileiros e neobrasileiros amalgamando-se e formando este estranho país cheio de enleios e oportunidades.
O sensualismo impregnado de odores e rituais marcou a obra com as naturais infidelidades, desonras e outras notórias promiscuidades ou crimes conta a moral de então. Outro combustível que move esta sociedade é o álcool, impelindo em cada tipo de personalidade seus efeitos abrasileirantes. Entre o fado e o samba (bem alá Benito de Paula, diga-se de passagem) destacam-se duas caricaturas, o mulato e seu molejo e o branco e sua altivez transtornada. Misticismo, labuta, ambição, coletividade; retratos da construção deste típico modo de vida tupiniquim. Só faltou o futebol.
O escravismo ainda não acabou, percorre os dias camuflado como a exploração sob baixos salários que mal fazem o povo morar e comer. E já não era com isso que os escravos contavam?
Ao findar, a nega, que fielmente servira, fora lançada como um estorvo sem qualquer linha de expressão na face ingrata, a exemplo da surda lei áurea de 1888 que convenientemente despejou nossos antepassados para a marginalidade substituindo-os por imigrantes que não fizeram sucesso em seus países abarrotados...
Uma cultura problemática e ineficiente, resultado da baixa intelectualidade historicamente impelida ao povo.
O sensualismo impregnado de odores e rituais marcou a obra com as naturais infidelidades, desonras e outras notórias promiscuidades ou crimes conta a moral de então. Outro combustível que move esta sociedade é o álcool, impelindo em cada tipo de personalidade seus efeitos abrasileirantes. Entre o fado e o samba (bem alá Benito de Paula, diga-se de passagem) destacam-se duas caricaturas, o mulato e seu molejo e o branco e sua altivez transtornada. Misticismo, labuta, ambição, coletividade; retratos da construção deste típico modo de vida tupiniquim. Só faltou o futebol.
O escravismo ainda não acabou, percorre os dias camuflado como a exploração sob baixos salários que mal fazem o povo morar e comer. E já não era com isso que os escravos contavam?
Ao findar, a nega, que fielmente servira, fora lançada como um estorvo sem qualquer linha de expressão na face ingrata, a exemplo da surda lei áurea de 1888 que convenientemente despejou nossos antepassados para a marginalidade substituindo-os por imigrantes que não fizeram sucesso em seus países abarrotados...
Uma cultura problemática e ineficiente, resultado da baixa intelectualidade historicamente impelida ao povo.
Sobre "Noites brancas", Dostoiévski
Um momento total de felicidade é suficiente para inundar uma vida? Eu diria que sim... Por que se identificar tanto com essa história? Ser o patético passional a sonhar com damas que choram na beira do cais, ou dos trilhos de um trem? Um belo sorriso e aquele estereotipado olhar cativante ainda serão capazes de degelar um coração? Quem desfrutou do celeste jamais desejará debruçar-se no telúrico...
Quatro noites a coser o devaneio, alegria forjada de concretizar o amor que durou apenas horas, desvanecido com o quase sim que virou o bruto não.
Fatidicamente houve tempos em que não era permitido a um poeta concretizar sem máculas seu amor, mantendo-o na candura de cortinas que desvanecem a imagem da donzela espectral. Depois veio o fio do Machado a colocar minhocas realistas nas cabeças...
Dostoiévski... ah Dostoiévski! O que acontecerá após a desilusão? Nosso herói se tornará pragmático e tomará os corpos das damas desalmadas pelos incontáveis trastes? Nos subsolos do humano que amou nada além da resignação pelo tempo pretérito... o amor deveria permanecer como verbo intransitivo.
Textos complementares:
Mediastino
Aqueronte seco
Sublimação
completude na incompletude
Quatro noites a coser o devaneio, alegria forjada de concretizar o amor que durou apenas horas, desvanecido com o quase sim que virou o bruto não.
Fatidicamente houve tempos em que não era permitido a um poeta concretizar sem máculas seu amor, mantendo-o na candura de cortinas que desvanecem a imagem da donzela espectral. Depois veio o fio do Machado a colocar minhocas realistas nas cabeças...
Dostoiévski... ah Dostoiévski! O que acontecerá após a desilusão? Nosso herói se tornará pragmático e tomará os corpos das damas desalmadas pelos incontáveis trastes? Nos subsolos do humano que amou nada além da resignação pelo tempo pretérito... o amor deveria permanecer como verbo intransitivo.
Textos complementares:
Mediastino
Aqueronte seco
Sublimação
completude na incompletude
conjugação de verbos
Ferramenta em que você coloca o verbo no infinitivo e retorna os tempos verbais. Faça seus testes.
PORTUGUES
http://www.conjuga-me.net/
INGLÊS:
http://conjugator.reverso.net/conjugation-english.html
Por exemplo:
PORTUGUES
http://www.conjuga-me.net/
INGLÊS:
http://conjugator.reverso.net/conjugation-english.html
Por exemplo:
Verbo Ser... | |||||
Gerúndio: sendo | |||||
Particípio passado: sido | |||||
Indicativo | |||||
Presente | Pretérito perfeito | Pretérito imperfeito | |||
eu | sou | eu | fui | eu | era |
tu | és | tu | foste | tu | eras |
ele/ela | é | ele/ela | foi | ele/ela | era |
nós | somos | nós | fomos | nós | éramos |
vós | sois | vós | fostes | vós | éreis |
eles/elas | são | eles/elas | foram | eles/elas | eram |
Pret. mais-que-perfeito | Futuro / | Condicional / | |||
Futuro do presente | Futuro do pretérito | ||||
eu | fora | eu | serei | eu | seria |
tu | foras | tu | serás | tu | serias |
ele/ela | fora | ele/ela | será | ele/ela | seria |
nós | fôramos | nós | seremos | nós | seríamos |
vós | fôreis | vós | sereis | vós | seríeis |
eles/elas | foram | eles/elas | serão | eles/elas | seriam |
Conjuntivo Subjuntivo (Br) | |||||
Presente | Pretérito imperfeito | Futuro | |||
que eu | seja | se eu | fosse | quando eu | for |
que tu | sejas | se tu | fosses | quando tu | fores |
que ele/ela | seja | se ele/ela | fosse | quando ele/ela | for |
que nós | sejamos | se nós | fôssemos | quando nós | formos |
que vós | sejais | se vós | fôsseis | quando vós | fordes |
que eles/elas | sejam | se eles/elas | fossem | quando eles/elas | forem |
Imperativo | |||||
afirmativo | negativo | Infinitivo pessoal | |||
– | – | para ser eu | |||
sê tu | não sejas tu | para seres tu | |||
seja você | não seja você | para ser ele/ela | |||
sejamos nós | não sejamos nós | para sermos nós | |||
sede vós | não sejais vós | para serdes vós | |||
sejam vocês | não sejam vocês | para serem eles/elas |
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In English, the conjugated forms are the same for the following persons: you, we and they. |
Compound forms Simple forms
| In English, the conjugated forms are the same for the following persons: you, we and they. | ||||||||||||||||||
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Sobre o filme "Bruna Surfistinha", dirigido por Marcus Baldini.
O que dizer? Será que a autora, ao assistir o filme, obteve a mesma reação que Saramago ao ver a obra de Meirelles? O acaso me levou a este filme. E o mesmo acaso me levou a história da Bruna. Evidentemente desde os templos bíblicos existe uma curiosidade da sociedade em saber o que pensam esses seres míticos que satisfazem os homens no seu simples e diáfano prazer em troca do fruto de um labor que justifica e purifica seus atos testosterônicos. Porém, embora o filme tenha apelo dramático ao didaticamente trazer a questão da sexualidade, prostituição, drogas e bullying (só faltou falar da dengue), foi pobre ao não trazer a tona, em pormenores, o que se passa nas cabeças de quem vende e de quem compra.
A única introspecção que posso recordar foi a de levantar a possibilidade de explicação da fuga de casa com a necessidade de despertar algum sentimento em seus pais, mesmo que ódio ou vergonha. Acho muito pouco para tamanho drama, o que me fez insistentemente perguntar: O que se passa na cabeça da Bruna? Ou será que passa algo pela cabeça dela? Não seria a perfeição uma pessoa passar por fatos tão marcantes e não fazer juízos de porte reflexivo, moral ou transcendental? Será que o turbilhão a levou como passageira, neste mundo que é um moinho? E mesmo transeunte cambaleante ela tenha achado seu lugar ao sol?
O filme vendeu a ideia de que esses sonhos não são tão mesquinhos nem trituráveis. E o sucesso vigoroso da autora (conceituem por si sucesso por favor) corrobora que tudo tem seu preço. Seria taxativo dizer que uma mulher esperta cobra pelo sexo que oferece? E se o preço não for pagamento em espécie? E se o preço for estabilidade? Um casamento? Um apanhado namorado? E se fazer sexo com quem não se ama for absolutamente corroborar a natureza humana? (fisiologismos talvez). Qual diferença existe entre cobrar ou não? Será que devemos supervalorizar o sexo ou banalizar para acender a estátua da liberdade? Se o homem paga pela mulher perfeita que não reclama, escuta tudo e oferece sexo e a mulher recebe para ter seu salão, roupas, carros e outras coisas que lhe importa, diante de qual problema nos defrontamos realmente? - Bom, diriam os ascéticos, precisamos melhorar, então, os valores, mudar os objetivos das pessoas. Mudar a perspectiva de sucesso. Mas esses homens não podem ser levados a sério. Sucesso talvez seja fazer e viver do que se gosta. E a sociedade tem que parar de suprimir seus complexos freudianos e viver sua vida com menos hipocrisia. E daí volto a pergunta: Partindo do pressuposto que nada se passa na cabeça da Raquel (pseudônimo invertido de Bruna), felicidade não consistiria em atingir o ápice da liberdade da não autocrítica superedípica? Viver plenamente conforme nossa natureza? Então para isso temos que ter a sorte de crescer e incorporar os valores certos (talvez os menos auto-destrutivos ou àqueles conforme as convenções sociais).
Eu fiquei com dó da Deborah Secco, de quem sou fã desde o "confissões de adolescente" exibido pela TV cultura de SP. Ela atuou bem e perdeu a chance de ser marcada como a atriz de um grande filme que explorasse as entranhas de uma prostituta. Atuou apenas em um filme biográfico que narrou fatos, focado no apelo sexual da história. Bom filme, decepcionante, mas bem intencionado. Prazer barato (e ainda paguei meia entrada) e corriqueiro, nada comparado a uma paixão, a expectoração da veracidade, por advir do peito e atingir a face da amada.
Máxima: Sexo é sempre por interesse.
Sobre "Lolita", Vladimir Nabokov
Jocoso. Final digno de Dostoiévski ou Machado, coroando nosso pseudoprotagonista com desfecho certamente estipulado por juri popular. Ao narrar atos abominados até os dias de hoje feriu os adoradores da moral atávica. Poderia-se esperar um insano a justificar seu crimes, ou um choque de consciência, mas diante de tamanha ponderação seria postiça qualquer escusa pelo amor que irrompera as leis dos animais sociais, sincero, fiel, obsessivo e uníssono (agradeço pela ilusão). Meu preconceito esperava uma menina ardilosa e ativa. Presenciei apenas uma indefesa sem saída. Não gostara jamais de seu amante (paternal?). Não purificou-se embevecida por qualquer nobre sentimento. Recrutada como serviçal do sexo, apenas teve narrada a não menos dolorosa realidade de outras ninfetas sob suprimidas infâncias. Em pauta homens insanos sob desejos proibidos e uma sociedade que ha pouco vem admitindo a sexualidade infantil e avaliando mecanismos de lidar com isso sem suprimir a infância nem estender ainda mais a adolescência, que hoje frequentemente vai dos 12 aos 35 anos. Anacrônico Nabokov? Talvez nem tanto.
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