Loucura, insensatez, estado inevitável.

Discorrer sobre o valor das coisas e as coisas de valor relembra a biblioteca do escoteiro mirim de Huguinho, Zézinho e Luizinho.
No entanto, o presente texto vai além da embalagem de iogurte inviolável. Mesmo em um país de fome miséria e incompreensão, continuamos a nos voltar restritamente ao que envolve e fascina, numa inevitável conclusão: O Brasil é tetracampeão (e penta, rs). Nos preocupamos demais com o que conhecemos, logo, o que constitui nosso mundinho, e julgamos desimportante ou amedrontador o que desconhecemos.
O fascínio, sempre ensimesmado, recai na necessidade autopreservativa em supervalorizar seu próprio mundo para justifica-lo e aceitá-lo. Triste constatação da ferrugem nas dobradiças existenciais que fariam as pessoas se permitir a abertura ao novo.
Estranhamente, àqueles que acreditam, sustentam e impõe aos ímpios, saberem algo, desconhecem que o mais importante é saber o quanto ignoram.
Não sou matemático, mas vou tentar provar parcamente tal ponto de vista com teoria dos conjuntos e teoria dos limites.
Inicialmente consideramos o conjunto "C", o conhecimento que um indivíduo pode obter, e "G" todo o conhecimento acumulado pela humanidade nos dias atuais (esqueçam Alexandria ou a destruição espanhola do conhecimento maia, inca, etc., ou seja, o conhecimento que foi acumulado mas perdeu-se). Se considerarmos que o conhecimento da humanidade é "bem grande", ou ainda "bem maior que o conhecimento de um único indivíduo", podemos dizer que a divisão de "C" e "G" (tudo bem, das cardinalidades se preferirem), nos dirá que C é "muito pequeno" comparado a "G". Um número muito pequeno é conhecido como infinitésimo.

O interessante é que muitos se vangloriam por "C", principalmente quando os quilos e quilos de títulos preenchem sua indumentária marcial chamada "currículo". Nos Brasil ainda temos o Lattes, uma espécie de vitrine acadêmica. Obviamente quanto mais quilos meu currículo tiver mais peso eu tenho sobre você, portanto, maior a minha gravidade e consequentemente a capacidade de atrair pequenos corpos celestes sem luz própria chamados alunos (de iniciação científica, especialização, mestrado, doutorado, pós-doutorado...).
Por se tratar de seres "auto"-intitulados iluminados, muitos se perdem no próprio "C", girando em torno de si. Esta limitação é embaraçosa, pois se os seres supremos se ocupam do "C", correm um sério risco de não mais penetrar no "G", e daí, qualquer um que conheça profundamente o que desconhece certamente terá explorado um universo muito maior que o maior "C" existente. Um indivíduo destes terá dimensão maior que os corpos celestes dotados de luz própria, afinal, onde mais estes corpos iriam se sustentar senão em alguma matéria distorcida que chamamos de "espaço"?
E ainda existe algo pior. Conforme ilustrado na figura, verificamos que "C" está contido em "G", ou seja, o que julgamos conhecer é passível de ser refutado (a não ser conhecimento religioso ou filosófico). Em outras palavras, um indivíduo com pensamento científico deve julgar a possibilidade de seu conhecimento constituir ignorância. Se ele tiver convicção deve deslocar os elementos deste conjunto para a parte externa de "G".
Daí, o melhor a fazer é expandir o conhecimento sobre o tamanho de nossa ignorância.
Os mecanismos de distribuição do poder baseado no "conhecimento" demonstra sua falha. Qualquer forma de poder pode ser chamada de polícia em um mundo cão, continuando a perpetuar arbitrariedades. Aparentemente, a democracia é a interessante forma de tomada de decisões, dado que advém do somatório de vários "C" (subconjuntos de "G"), e ainda alguns que contemplam em si algo do "G"-"C" (conjunto do conhecimento ignorado passível de ser explorado). Este somatório, no ato decisório, se torna um nivelamento, com grande probabilidade de corrigir distorções. A política é falha quando ignora que a democracia ocorre quando a vontade da maioria impera.
Logo, na minha modesta opinião, o maior dos filósofos foi àquele que se preocupou em demonstrar que somente podia saber que nada sabe. E ainda, pessoas que tomam decisões que afetam outras pessoas deveriam considerar sua inerente limitação e buscar saber melhor o quanto ignora explorando sua ignorância e a dos demais. Toda forma de poder exercida numa cega convicção de que se sabe algo é uma forma de viver e de morrer por nada. Não se permitir saber o que se ignora é loucura, convicção é insensatez.

Refutações são bem vindas... :-)

Sobre "o teatro mágico"

Quão fascínio exerce sobre as almas jovens o circo em amalgama com a poesia? Sede em poço profundo, sem altas pedras para se atirar, mas numa piscina de ar a saciar ávidos e fascinados olhos debaixo do telhado céu. A palavra, ferramenta, fere e forja o conceito que define a juventude: Liberdade. Acrobacias cerceadas pelo eixo, tecendo o português simples, mas do simples que bem feito toca. E nós, aspirantes, presos a este eixo, entocados nos próprios conceitos, desfalecemos em fila indiana, atrás da flauta que entoa o sonho do retorno à caverna. Se a liberdade não existe plena, sendo impossível navegar sem âncora, nos deliciamos com a ilusão da liberdade máxima.
Sim, hoje eu senti, vislumbrei um olhar fulgurante, dramático. Uma queda graciosa que me fitou, a terminar num ato seco, despejou esta liberdade em meu cálice transbordado e disse: - Engula! Este olhar traçado com lábios, dentes, pele, fulgurou, atiçou, relembrou numa trama velhas perguntas "a que viemos?", "qual mundo queremos?", "mais do mesmo ou o inesperado constante?". O novo pode existir se é movido por velhos sentimentos? Amor... que matéria entoada, reentoada, trovada, profetizada, prometida, escondida, reciclada, traduzida, depenada. Toca a canção que faz esquecer a amada, num exercício para trazê-la numa tragada.
Esquecer torna-se a fórmula para a liberdade máxima? Ou devemos viver eternamente bem diante do "apezar de"? Seremos livres quando amarmos solitariamente, despojados do amor alheio. Egoísmo? Para mergulhar no céu precisamos de um fio inextensível que nos guie no caminho de volta. A beleza da ida culmina na beleza do nada e termina na atmosfera enjaulada no tórax, que aprisona a vida dependente, ou seja, presa por vontade. Exercemos a liberdade quando a negamos para amar. E afinal, para que vivemos de poesia e circo senão para sermos livres e presos e nos enforcarmos na corda da liberdade*?




*o trexo "enforcarmos na corda da liberdade" advém do programa "provocações", Antônio Abujanra.


(Texto em elaboração)