Sobre o filme Rashomon, escrito e dirigido por Akira Kurosawa

Antes da fé em deus, há de se sustentar a fé nos homens.

Sendo os homens destituídos de honra, o seguimento de algum código moral ocorre apenas diante da conveniência. A percepção é distorcida para contorcer a realidade e torná-la aprazível ou meramente tragável. Desta forma, a mentira torna-se um caco da verdade refletida, fragmentada em inúmeras versões. Não há redenção se a moral é subjetivada. O determinismo extrínseco da redenção a torna um melindre de conveniências simétricas para o redentor e para o redimido. Kant, ao trazer a existência de deus como um artifício humano, nos deu insumo para aceitar o que há de intragável em tudo que não passa de espelho dado que somos o que percebemos.




Mais um filme obrigatório. Japonesa narrativa que ruma para um brain explode Allan-Poeriano com requintes mexicanos. Jamais esperei que a morte seria tão similarmente cultuada em países separados por um Pacífico nos veios dos fatos cotidianos que traduzem-na com faces do horror ao banal.

Atuações brilhantes, sonoplastia ao estilo do Bergson (ou o contrário :) ), tomadas que mergulham o espectador na densidade da floresta e da história, a qual vale mais pelas versões do que pelos fatos. Muitas vezes uma aquarela traduz melhor a realidade do que a fotografia.

Dirigido por Akira Kurosawa
Com Toshirô Mifune, Masayuki Mori, Machiko Kyô mais
Gênero Drama
País  Japão
Ano 1950
Duração: 1h28min