Antes da fé em deus, há de se sustentar a fé nos homens.
Sendo os homens destituídos de honra, o seguimento de algum código moral ocorre apenas diante da conveniência. A percepção é distorcida para contorcer a realidade e torná-la aprazível ou meramente tragável. Desta forma, a mentira torna-se um caco da verdade refletida, fragmentada em inúmeras versões. Não há redenção se a moral é subjetivada. O determinismo extrínseco da redenção a torna um melindre de conveniências simétricas para o redentor e para o redimido. Kant, ao trazer a existência de deus como um artifício humano, nos deu insumo para aceitar o que há de intragável em tudo que não passa de espelho dado que somos o que percebemos.
Mais um filme obrigatório. Japonesa narrativa que ruma para um brain explode Allan-Poeriano com requintes mexicanos. Jamais esperei que a morte seria tão similarmente cultuada em países separados por um Pacífico nos veios dos fatos cotidianos que traduzem-na com faces do horror ao banal.
Atuações brilhantes, sonoplastia ao estilo do Bergson (ou o contrário :) ), tomadas que mergulham o espectador na densidade da floresta e da história, a qual vale mais pelas versões do que pelos fatos. Muitas vezes uma aquarela traduz melhor a realidade do que a fotografia.
Dirigido por Akira Kurosawa
Com Toshirô Mifune, Masayuki Mori, Machiko Kyô mais
Gênero Drama
País Japão
Ano 1950
Duração: 1h28min
E não é que por acaso (ou não, algumas vezes os cliques aparentam serem mais determinísticos do que imagino) esse grafo complexo chamado de web me trouxe até aqui...
ResponderExcluirEste é um grande filme do nosso mestre com olhos mais sofridos e sábios que puxados, pasmem!
Grande texto sobre a película, Dr. linux pharmacist. É tão bom quando pode-se ver que a verdade pode ser confrontada e resumida aos pontos de vista (falo da opinião e visão também)... E é tão triste quando fica claro a diferença de compreensão e compaixão sobre os fatos... E é neste filme que pude ver ambos fatos.
"- Se os homens não podem confiar uns nos outros, | esta terra pode também ser o inferno.
- Certo. Este mundo é um inferno.
- Não, eu acredito nos homens.
- Não quero que este lugar seja o inferno.
- Gritar em nada ajudará.
- Pense nisso. Das três histórias, qual é a mais acreditável?
- Não faço idéia.
- No fim é impossível compreender as coisas que os homens fazem."
DiárioOntologizou!!! hehehe De fato, a intragável realidade não pode ater-se a mera apreensão auto-intitulada unívoca da razão científica. Seria muito pouco expressar com fatos o que podemos ampliar com múltiplas sensações e memórias. Afinal, ideias também são matéria.
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