Sobre "Crime e Castigo", Fiodor Dostoiévsk

O que dizer? A natureza de um crime é maleável? Um profunda psique pode se abalar. Loucura, bondade, confrontos íntimos. Ao não saber o que fazemos com as próprias vidas, terminamos por nos entregar ao inquisidor superego a julgar nossos atos alcunhados profanos. Pecar é irromper a consciência ou transgredir leis de mármore? Indivíduos sobrepujantes merecem isolamento? Miséria! Não basta ter dinheiro. Desonra! Não basta ter ideias. Basta! Os suores do meu corpo não mais perscrutarão a relação humana roçando na pele incandescente da sociedade. Não há erros e acertos, e a felicidade não depende de nada para perpetrar no vago da mente. Persignar-se oh! Sibila maquiavélica, beata incondicional, simples camponesa a remoer vosso néscio procedimento de rancor contido. Somos presunçosos.

- A vida é isto! - Sim, diriam os pessimistas. - Não! - os realistas ou aqueles que reconhecem sua cegueira. Cega humanidade! Se entregue para a redenção que jamais reparará seus erros.

Divagações sobre a ascética

Tanto a religião, quanto a filosofia já pregavam a modificação das paixões em busca de um comportamento sábio. A simpatia, empolgação, a antipatia, desprezo, tendem a esmaecer a satisfação e distanciar o indivíduo do verdadeiro absoluto. A abnegação, apatia, tende a ser vereda pela qual as virtudes podem ser fixadas definitivamente. A primazia deve estar no saber. Temperança é uma consequência. Os sentimentos imanentes estimulados pela sociedade não podem seduzir o sábio: desejam transviam as atitudes e pensamentos. Porém se os ardores do corpo físico não permitem o equilíbrio, qualidades almejadas desvanecerão com nas primeiras contra investidas. A juventude torna-se um duplo obstáculo, anexa-se a falta da diversidade de experiência e contemplações de outros sistemas, além da deglutição interconectada dos conhecimentos. O uso constante da sabedoria também trará a melhor forma de expressar a fim de perpetrar o conhecimento.

A que veio este blog?

Para um cientista (ou pretendente a) lidar apenas com fatos se torna pouco. Posso inventar um método analítico para mensurar em nanômetros o quão vermelha uma rosa é. Fazer apenas isso seria fascinante. Mas para mim não basta.

Este blog é um laboratório. Mas um laboratório do significado, não das causas, tão pouco dos fatos. Os fenômenos me interessam.

Lidar com a mais insossa das matérias-primas, o conhecimento, tornou-se meu ópio. Um vício incurável, marca indissociável do caráter. Não adianta, meu rótulo é esse. Ponto.

Navegar pelo significado da ciência, emoção, da alma é uma busca arrogante e antiga do homem, sempre a intentar contra o incólume Olimpo. Hoje os homens são os deuses, já que os matamos um a um. E sendo deuses podemos tudo.

Descrever um indivíduo como vetor binário e projetá-lo no espaço pode ser uma boa abstração, tanto quanto traçar suas marcas de personalidade, submodos, predileções e projetos. Transitar entre inferências ou deduções tornam-se as pegadas na areia daqueles que usam jaleco. Muitas vezes o mar leva estas marcas de posteres e resumos. Por sorte algumas poucas marcas são vislumbradas por um ser olímpico que as promove ao status de continuidade. E de ombro em obro de gigantes vai caminhando nosso doce e intragável saber.

Odisseia pueril - parte 3

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Curioso, com os meses caminhando
Conhecendo apenas o que por simples vejo
E o longo, longo tempo vai passando
Em afresco vou pintando o impossível beijo

Antes estivesse num conto,
onde finais felizes sempre presenteiam
protagonistas e ouvintes com o belo excerto
enlace desejado, finais que não me dardejam.

Serás sempre a rosa esmaecendo
marcando a inevitável morte do horrendo.
És a bela, eu a fera estigmatizada
pelo ferro ardente. Paixão desvairada.

Quebro a taça, licor não há mais.
Firo a ponta do dedo num tear
imobilizando a todos. Enfim alguma paz!
Venha nobre pequenina, venha me salvar!

Estará no céu, no castelo do gigante?
Na doce casa, entre balas, flocos e confeitos?
Ou na távola redonda, erguendo brindes, saltitante.
Para outro que tomou seu coração com lábios suspeitos?

Inocente, passivo espero.
Vou lendo, criando uma divina.
Cultuando sentimento com esmero.
Até um dia, quem sabe, ela se aproxima.

EXISTES? FANTASMAGÓRICA VIAGEM INDIVINA!

Com o passar de infinitos crepúsculos
tantos sonhos, noites em leito puro
Deito a pena construindo meus opúsculos
Narrando a vida, da lua seu lado obscuro.

Penetro no Hades, procuro minha alma fantasmagórica
Encontro espelho, Narciso contemplando-me
Eu, ser vivo neste outro mundo, figura alegórica
Quero me perder, afastas de mim tal amoroso ditame.

Faíscas dum anil fogo a lampejar
acalentam o caminho deste gélido transeunte.
Um intruso, o ego lutando contra a submente,
Penetrando ruidosamente com chagas a creptar

Gotas calcáreas, espinhosa caverna
densidade repugnante, sórdido ar
da escarpa, os vapores da taverna
encerrada no encéfalo a putrefar.

Contemplo estarrecido tais disparidades
do recôndito, atônito, tamanho universo.
Jamais vi reunidas tantas atrocidades e vaidades
Soterradas num mesmo lodo, o lado perverso.

Da primeira mencionada, o belo desprezado
exercícios e tratamentos, quantos sacrifícios...
monstros inchados, músculo transbordado
arrastando asperamente, seu eterno ofício.

Tropeço, quase desfaleço numa câmara.
Antropozoomórficos seres, leões, ursos, víboras
lutam interminavelmente rasgando víveras
se taciturno és, aqui mostra toda sua ira.

E aos agitados de mente ativa
nos pregos do faquir criam a preguiça
Em metalinguísticos pesadelos, sem mácula esquiva.
abrasando seus horrores: - Rasteje, escória, sua carniça!

Se na ceara ceifaram abundância,
acumulando gorduras, oferecendo banquetes.
Penúria pujante em pérfida fragância
Sela seu fardo, vil delinquente!

Vejo lápides, estátuas em fragmentos.
Pântano necrófago, solos sulfurosos
Para os outrora cobiçosos em tumultos
Ao túmulo levarem os bens infortuniosos.

Etrusca necrópole, o oposto construído
para na morte vigorar o mesmo em vida.
Extensão dos anseios destituídos,
de ação, metafísica realidade não obtida.

Se na nefasta comédia não entendida
O findar feliz, do céu eu trouxer
O pergaminho, o segredo da desmedida
felicidade de encontrar-te, bem-me-quer!

Se taciturno sou, aqui brota coragem
para amar-te, tocar-te sem pudor.
Em teus seios pousam vestes transparentes
Delineando níveas formas, súbito estupor!


continua...

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Odisseia pueril - parte 2

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Na viagem ao passar entre cidades,
olhares oblíquos de jovem fêmea.
Será que tem algum afago por caridade,
Para este pobre enamorado na peleja?

Nada, fica somente com sorrir faceiro
alimentando mais ainda meu pesar.
Ao chamar-lhe indica sua mãe no eleio
Não amenizando meu cáustico amar.

Do que adianta procurá-la em lábios de outrem?
Acariciar meu reflexo do baço vidro?
Perder pensamentos que nada fazem
Ao ver passar seu sagrado abrigo?

Para tantos uma casa como as outras...
Para mim onde a ninfa dorme a devanear.
Leito onírico em que repousas.
Daria a alma apenas por um olhar.

MATIZES

Tantas noites mal dormidas,
horas passam sem olhos cerrar.
Alma fatigada e dorida.
Recobra alento com o sol a raiar.

Em convidativos gestos os sabiás
arrebatam-me da cama: - Vá nadar!
No mar azul com que me olhas,
vejo o espectro da amada a cintilar.

A fria lua faz as pazes com o astro impiedoso
mostrando a possível e bela fusão dos antagônicos.
Será um sinal ao lograr por terreno pedregoso?
Vencerei o embate das confusões e pânicos?

Refrigera-me ó doce visão da amada.
Se tamanha formosura adornasse minha lágrima,
haveria deste mar se transformar em cristal.
Congelaria o vento, o sol, a arrevoada
Para fazer-te brincos, oh flor virginal!

Transborda-me deste etéreo sentimento,
destituído de profana intenção.
Prostro aos teus pés a candura deste lamento,
faça-me teu, sorva-me numa libação!

Do rubro sangue purpúreos trovões.
Do estampido, doces conclusões.
Do cinéreo vício passa a chover.
Do vago crânio mais nada a dizer.

CÂNDIDO AMOR, COMO NOS CONTOS

Entre fadas e duendes aguardo meu destino.
Bruxas e castelos não são mais empecilhos.
Apenas a varinha de condão livrará o desatino,
tornando príncipe, da terra este pobre filho.

És o leão que perdeu a coragem.
Seguiste a caminhar com outros neste sonho
Sábio mago, a solução no fim desta viagem.
Mostrou que sempre carregou consigo tal ganho.

Prenderam-me na torre, cortaram meu cabelo.
Esperarei mil e uma noites, vou escapar
deste labirinto verde, fujo do apelo
ao grito do exército de cartas a se lançar.

Se na densa floresta encantada
a flecha do nobre ladrão me atingir,
será melhor que a maça envenenada?
Pois não terei o beijo do despertar a cingir.

Estremeço após as doze badaladas.
Não quero de perto de ti partir.
Mesmo em silêncio quero admirar,
Sem importar em criar porvir.

continua...

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Sobre "Os sertões", Euclides da Cunha

A terra, o homem, a luta. Abre-se com pitoresca descrição das intempéries pertencentes aos solos áridos e sua consequente lapidação no espírito. A sórdida ingenuidade de um povo mestiço e carente, uma invenção europeia de quem fracassou no intento da limpeza étnica praticada pelos colonizadores no norte. Alimentou uma esperança triunfal de salvação mediante o estoicismo severo pregado pelo penitente Antônio Conselheiro. A corroborada incompetência do governo recém instaurado fortaleceu a lenda de Canudos, ao fazer de uma empreitada simples, exterminando meia dúzia de miseráveis, uma verdadeira Ilíada com menos requintes intelectuais dada a brevidade da história do povo que a criou.

Porém tal história foi fortemente adornada por crendices e atrocidades em meio a elementos naturais aterradores. As genuflexas famílias suportaram a bombardeios, incêndios, chacinas e tiveram suas 5200 casas, além de duas igrejas totalmente destruídas. No fim, quatro jagunços foram assassinados por soldados rugindo raivosamente em cinco mil. E o triunfo a cabeça de um profeta.

Odisséia pueril - parte 1

Estes disformes versos foram deflorados há muitos e muitos e muitos anos, talvez uma década ou uma dúzia. Na época subestimei seu potencial, porém hoje levo tal intento com um jocoso sorriso de esgueira. Divirtam-se, caso o faro seja de seu paladar. Afinal, esta não passa daquelas historinhas pueris que testam nossa paciência...




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LIRA PRELUDIANDO O CAOS

Na diáfana manhã se estendia
o que seria martírio para a vida.
Prenúncio de metamorfose alucinante
pairando sobre uma mente calcinante.

No percurso de enfadonhos estampidos
a saltar sinuosidades e desvelos.
O caminho agonioso de paralelepípedos
velozmente repelia-nos sem zelo.

No estranho submundo das pendências
a nova edificação se conhecia.
Nômade vida de brandas penitências,
depara-se com altaneira adolescência.

Ansiedade pousada sobre os ombros.
Amarelos corredores percorrendo isento.
Passos mal calcados por pés congros,
Olhos perscrutando novo alento.

Eis que a etérea visão se aproxima,
Dentre tantas visões a inquirir:
Quem é o novato a se introduzir?
Quem é a detentora daquele par de imãs?

ESTENDE-SE MISTÉRIO DURADOURO

Esclarecida a procedência do indivíduo,
instalam-no posicionado no improviso.
O cotidiano dilui-se como precípuo.
Postergando a querela interna sem aviso.

O atávico sentimento lusitano
Está prestes a renascer seu fado e glória.
Prestimosa juventude e seu arcano,
Alevanta ascendência ibérica sem deplória.

A primeira das noites inquietas,
permeada pelo ruidoso brado do mar.
Suores, labor das horas infinitas,
desbravando as planícies do insurgido amar.

Facínora aquele que implantou no homem,
tal vocação para aterrar-se em afronta
ao pacífico equilíbrio enquanto gérmen,
aturdindo abrasante sem remonta.

Por que malogras tal sentimento procurado?
Qual erro o faz chamar desditoso?
Se falta na vida alcunham-no desafortunado.
Se excede o chamam por fogoso.

Bem sabeis, pode há alto pedestal erguido
quando corações batem em alinho.
Mas na bronca queda jaz dolorido
quando vive no martírio sozinho.

Nova aurora rompendo tempo escuro
Afugentai estrelas de lúgubre luz.
Dilacera-me enquanto a dor não produz,
tentáculos urticantes façam brilho puro!

Corra veloz, condução nefasta.
Leve-me para aquela misteriosa alma.
Resplendor da face pura afasta
envolvendo-me em miséria e trauma.

SOSLAIO INTERMITENTE

Penso estar em níveo trono.
Querubins apontam suas liras.
Zéfiros sopram cânticos sedosos.
Em manto suave enlevo pensamentos.

No peito a primeira chama colhe.
Indago: - Que sentimento é esse?
Pode ser isso amor que a força tolhe?
Pode ser a paixão que me desfalece?

E ela, tão distante dos meus porvires...
Como vê o mundo gigante?
Será a Terra pequena como sua íris?
Será maior que meu peito arfante?

Temo ofuscar me ao apontar a face.
Subitamente de rei em meus gestos,
viro escravo a mercê de sua vontade.
Tens o poder de fulminar sem manifestos.

Desejaria uma divina bondade,
que suas duas pérolas trouxesse.
Para que ao menos sua voz degustasse,
Nesta confusa jovem mente, disparidade.

AFASTA DE MIM...

Cale-se! Pensas tocar o firmamento!
Presunçosa inexperiência sem pudor.
Mente ingênua sem fundamento,
pare de chamar em vão ao Senhor!

Mova-se deste estado letárgico.
Volte a respirar em normal cadência.
Para que temer final trágico
se na fronte tens a pueril adolescência?

Para que temer em irromper impulsos?
Contê-los somente o deixará na inércia.
Jamais terá seu rubros lábios voluptuosos,
Nem braços, abraços e peripécias.

És mais abstrato que concreto.
Amas mais o amar que a amante.
Glorificas a chaminé que ao asbesto.
Sem calmaria, num tornado delirante!

Cavalgas em imaginários pégasos.
Despencas em vales de unicórnios.
Desvelas cortes, adornas noturnos vasos.
Caminhas displicente em seus domínios.

Às margens de rios alimentados por ânforas,
Vê tenro idílio a depositar-se.
Molhas, solta, as madeixas sem vergonha,
No mesmo rio que Afrodite usa para banhar-se.

No incólume campo se desponta,
na ensaboada bolha que o leva
Num estouro a realidade apronta,
Uma prova que sua cabeça vela.

Desperta! abra sua gramática!
Drummond está no meio do caminho.
Qual é a solução para esta análise sintática?
Na deriva, o português meu desalinho.

A PRESSA DA PRECE

Anjo traga-me a mensagem,
dos meus votos elevados ao Excelso!
- Meu filho, ela é de carne, não uma miragem.
Não importunes com seu bradar em excesso!

O que faço se a dor é tanta?
Ergo tal barreira invisível...
Não sei a quem clamar senão à divina e santa.
Preciso superar tal muralha intransponível.

Nada ouço. Movimentarei o belo e o ideal.
Permitas eu emanar tal desejo transcendente.
Alimentar-me deste sopro imanente.
Deixar voar a alma em cada ponto cardeal.

QUERO FALAR CONTIGO

Dias no recôndito observo
cada suspiro, feito ou gesto.
És tão bela, seria teu servo.
Mas nada faço, nada manifesto.

Como inventar oportunidade?
De onde virá tal pretexto?
Se fico a imaginar como tu és,
termino por compor um soneto.
mas temo, como quem se aproxima de uma divindade.

No meu ventre estranhas reações.
Minha garganta seca a voz.
Na mente jazem brutos vulcões.
Mão trêmulas, nada entre nós.

De onde vens? O que sonhas?
Minas Gerais, quero ser médica.
Coincidência! Mesma origem remontas.
Na profissão desejo a mesma prédica.

Breve conversa.
Preciosa esmola.
Reduza a pressa.
Deixo a escola.

LABOR, LANGOR.

Qualquer labuta serve
para com outros pensamentos ocupar.
Quando anseio deixar o que se deve,
nada faço, senão trabalhar.

Porém, o rádio sopra impertinente
melodias tristes de simples gente.
De poesia barata, fácil e romântica
trazendo a memória daquela que encanta.

Nem mesmo, ambulante, a percorrer
de pés descalços a água do mar.
Dos fardos o provento, mas nem ao morrer.
Despedirei deste pesado amar.

continua...

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Pra que perdoar?


Pra que perdoar?
Se fazes tanto o sentir?
Se tornas a magoar?
Se praticas o ferir?

Pra que perdoar?
O mundo acabou.
A salsa virou.
O sapato partiu.

Pra que perdoar?
Seus olhos não sambam.
Seu viço não vinga.
Seu colo não dorme.

Pra que perdoar?
Se morres a cada minuto.
Se mirras teu sofrimento
Se tosas amores.

Perdoar não tem serventia.
Não denota, não indicia
De  trazer seu amor facínora
De cobrir-me das cores do dia
De amar-te com o brio do vento.

De tocar-te com a pluma do ninho.
De roçar-te com o som do momento.
De fazer-te criar o soluço do vinho.
De brincar-te, fugir-te, sugar-te.

Irromper tua lingua, ferir teu materno.
Rasgar, rangar... Sorver-te morta.
A morte meu perdão? Não.

Pra que perdoar-te?
Pra que perdoar-me?

Perdão para os fracos, viciados no erro, descaminhados na vida.

O perdão é um erro!

Pra que perdoar?

Nossa exposição sem filtros UV no mundo virtual

Com tantos veículos de comunicação e relação social do tipo msn, facebook, orkut, twitter, blogs, e por ai vai, muitos se perguntam: Corremos o risco de sofrer uma metástase virtual? Especialistas recomendam cuidado ao divulgar dados pessoais ou comprometedores de si, principalmente àqueles que procuram emprego ou mesmo trabalham em empresas de conduta tradicional... Mais uma vez as pessoas ao interpretarem seu papel existencial devem se metamorfosear em algo que não são conforme o recinto...

Arrisco ao dizer que a superexposição ajuda a desmistificar (e uniformizar) as pessoas, mostrando que indivíduos competentes e altamente profissionais podem procurar seu par romântico no badoo (um site que foca no cruzamento de pessoas em grande parte meramente pela superficial observação de fotos dos indivíduos). Ou senão poderiam ser flagrados dançando em cima do balcão de uma night club com a gravata na testa. No que isso impactaria no desempenho profissional? Obviamente se não envolver vícios ou tendências autodestrutivas eu diria que felicidade e descontração até contribuem para melhora do desempenho. Perdoem o clichê corporativo, mas gosto de repetir que um indivíduo de bem consigo mesmo produz mais.

Há muito falo: seriedade não tem nada a ver com senso de humor... Hipocrisia é aterrorizar na noite e fazer de conta no dia seguinte que nada fez, e ainda corroborar a esquizofrenia da convenção social taxando os outros que expõem suas aventuras...

Qual estereótipo você vende?

Quais artefatos usamos para expressar nosso eu? Seria através da roupa, fala ou comportamento? Algumas pessoas precisam gritar sua expressão. Exasperadas se vestem, mudam a fala, pintam o corpo, batem o pé, batem no peito, entram na roda e mergulham na lava coletiva da percussão que as carrega (ou seria lodo?). Certamente duvidaríamos da capacidade de apreciação de rock por um típico gerente de telemarketing com sua camisa de botão, óculos e porte estressado. Será que um motoqueiro com colete de couro e caveira nas costas apreciaria ópera? Na maioria das vezes apenas vemos listras pretas em meio a essa savana de camuflagens. Tudo são zebras. E sendo todos equinos nossos treinados olhos não se tornam capazes de enxergar além do estereótipo. Assim, sendo zebra, transpareça o que é, pois se aparentar um dromedário dificilmente atingirá seu objetivo existencial de zebra, principalmente o do acasalamento de culturas. Não se relacionará com outros da mesma espécie e ainda ficará desconcertado no meio de convívio desejado. Por mais que usemos muitas máscaras freudianas infelizmente não se pode abandonar a pragmática sobrevivência neste mundo que apenas enxerga com os olhos e adestra filhos com preguiça de entrar no infinito particular dos outros. Portanto, embora intrigante o fato da aparência ser uma mera representação eu vos digo: - Aparente o que você é!

Sobre "O anticristo", Friedrich Nietzsche

Realmente as deturpações do cristianismo foram um retrocesso para o espírito e para a ciência. Nietzsche não poupou a religião e seus fundamentos (os símbolos). Mas tive a impressão que poupou Jesus, mesmo massacrando seus princípios alcunhando-lhes como "antivida". Por não encontrar justificativa na virtude cristã as antagonizou. Tal exercício é relativamente fácil fazê-lo. Gostaria de saber como o autor se comportaria ao ver o rumo que a força religiosa tomou contemporaneamente. O enfraquecimento e a flexibilização assegurou sua precária sobrevivência enquanto instituição de poder. A constituição do homem vem se tornando mais científica e cética (como ocorreu na Alemanha de algumas décadas atrás). Sua condenável aproximação do científico com o religioso o converteu, pelo tom, num religioso anticristo, um simples antagonismo pelo antagonismo. Assim foi minha parca e limitada compreensão deste profuso e profundo revolucionário do devir. (set/2009)