Odisseia pueril - parte 3

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Curioso, com os meses caminhando
Conhecendo apenas o que por simples vejo
E o longo, longo tempo vai passando
Em afresco vou pintando o impossível beijo

Antes estivesse num conto,
onde finais felizes sempre presenteiam
protagonistas e ouvintes com o belo excerto
enlace desejado, finais que não me dardejam.

Serás sempre a rosa esmaecendo
marcando a inevitável morte do horrendo.
És a bela, eu a fera estigmatizada
pelo ferro ardente. Paixão desvairada.

Quebro a taça, licor não há mais.
Firo a ponta do dedo num tear
imobilizando a todos. Enfim alguma paz!
Venha nobre pequenina, venha me salvar!

Estará no céu, no castelo do gigante?
Na doce casa, entre balas, flocos e confeitos?
Ou na távola redonda, erguendo brindes, saltitante.
Para outro que tomou seu coração com lábios suspeitos?

Inocente, passivo espero.
Vou lendo, criando uma divina.
Cultuando sentimento com esmero.
Até um dia, quem sabe, ela se aproxima.

EXISTES? FANTASMAGÓRICA VIAGEM INDIVINA!

Com o passar de infinitos crepúsculos
tantos sonhos, noites em leito puro
Deito a pena construindo meus opúsculos
Narrando a vida, da lua seu lado obscuro.

Penetro no Hades, procuro minha alma fantasmagórica
Encontro espelho, Narciso contemplando-me
Eu, ser vivo neste outro mundo, figura alegórica
Quero me perder, afastas de mim tal amoroso ditame.

Faíscas dum anil fogo a lampejar
acalentam o caminho deste gélido transeunte.
Um intruso, o ego lutando contra a submente,
Penetrando ruidosamente com chagas a creptar

Gotas calcáreas, espinhosa caverna
densidade repugnante, sórdido ar
da escarpa, os vapores da taverna
encerrada no encéfalo a putrefar.

Contemplo estarrecido tais disparidades
do recôndito, atônito, tamanho universo.
Jamais vi reunidas tantas atrocidades e vaidades
Soterradas num mesmo lodo, o lado perverso.

Da primeira mencionada, o belo desprezado
exercícios e tratamentos, quantos sacrifícios...
monstros inchados, músculo transbordado
arrastando asperamente, seu eterno ofício.

Tropeço, quase desfaleço numa câmara.
Antropozoomórficos seres, leões, ursos, víboras
lutam interminavelmente rasgando víveras
se taciturno és, aqui mostra toda sua ira.

E aos agitados de mente ativa
nos pregos do faquir criam a preguiça
Em metalinguísticos pesadelos, sem mácula esquiva.
abrasando seus horrores: - Rasteje, escória, sua carniça!

Se na ceara ceifaram abundância,
acumulando gorduras, oferecendo banquetes.
Penúria pujante em pérfida fragância
Sela seu fardo, vil delinquente!

Vejo lápides, estátuas em fragmentos.
Pântano necrófago, solos sulfurosos
Para os outrora cobiçosos em tumultos
Ao túmulo levarem os bens infortuniosos.

Etrusca necrópole, o oposto construído
para na morte vigorar o mesmo em vida.
Extensão dos anseios destituídos,
de ação, metafísica realidade não obtida.

Se na nefasta comédia não entendida
O findar feliz, do céu eu trouxer
O pergaminho, o segredo da desmedida
felicidade de encontrar-te, bem-me-quer!

Se taciturno sou, aqui brota coragem
para amar-te, tocar-te sem pudor.
Em teus seios pousam vestes transparentes
Delineando níveas formas, súbito estupor!


continua...

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