Sobre o filme "De repente 30", com Jennifer Garner

Eu não vivi a década de 80. Nasci nela e em pouco tempo atravessarei a fronteira dos 30, assim posso afirmar que nalgum balanço pra lá e pra cá já esteja vivenciando os 30, bem como vivenciei algum sopro de 1980. Afinal, a década de 90 não passou da tentativa da despersonificação e destruição de muros. Foi bom, porém uma boa proposta de demolição deve vir acompanhada da construção de um projeto melhor. Faltou a segunda parte.

Eu cresci sendo incutido de temores relacionados a competitividade profissional, desemprego e desesperança na economia e no pais. Com o tempo as coisas foram se estabilizando e ganhei meu espaço ao sol bem como o Brasil no mundo.
Pensando nos eventos nostálgicos trazidos pelo filme eu poderia enumerar uma série de pequenas cenas, sons e objetos que só de olhar daria para marear os olhos.
No entanto o principal viés dessa história é a lição de moral aos adultos de índole duvidosa a qual pergunta: - Você faria isso se tivesse treze anos?  Ainda existe certa ingenuidade nos que tem treze hoje? E será que os trintões da década de oitenta foram mais gente boa que os trinta de hoje?

Sim, estamos num mundo maior onde os espaços foram diminuindo. As tecnologias passaram a traçar irreversivelmente nossa trajetória urbana de afastamento da natureza. Já outrora manchávamos com corantes nossas línguas apetecendo-nos de artificiais sabores que nem mais precisavam copiar a natureza. Fumávamos chocolate e já tomávamos pílulas ao invés de tradicionais chás e também tínhamos a televisão para uniformizar a moda e modismos.

Ainda restaria uma última fronteira a destruir. Com o fim da mais barroca das décadas exterminaríamos o romantismo do cortejo e conquista instaurando de vez a praticidade nos relacionamentos. Nesta época os namoros já se tornaram mais curtos e os casamentos deixaram de ser pactos eternos, afinal, love is a battlefield. Hoje, apenas contribuímos com o arcabouço moral para impedir dedos apontados, o que de fato está bastante reduzido, pois poucos se sentem suficientemente elevados para dar lições de moral.

Realmente não sei se o mundo ficou melhor com Cindy Lauper ou Kesha, com Atari ou X-box, com del rey ou corsa, com a guerra fria ou xiitas. Eu sei que se aos treze visse o que sou hoje me orgulharia, pois apesar da contra-maré, acho que virei um cara legal bem como muita gente que vi crescer. Curiosamente aos treze fui mais conservador, hoje a flexibilidade me norteia. Com estranhamento constato que não nadei no Tiete bem como meus avós não tiveram um estojo de robô com um monte de compartimentos, tão pouco vejo crianças hoje subindo árvores e pegando frutas no quintal de vizinhos como fiz, bem como eu não tive um game portátil que acessasse a internet. Talvez exatamente por isso não considero que minha época tenha sido melhor que as de outrora ou as vindouras. Não pode ser melhor ou pior pois minha época é agora, e meu lugar aqui. Talvez por não precisar nada disso e desfrutar de cada época o seu melhor. E sim, é muito bom ir numa festa e ouvir Kesha seguida por Cindy Lauper. ;-)

Um comentário: