Nove dias

Estou de luto.

Não aquele luto da viúva que veste um obrigatório preto por quarenta dias, mas um luto que veste o peito de um amigo amargo.
Este gosto, amargo, compartilha do cinéreo efeito do desgosto.
Agora jaz intacto, numa imobilidade sórdida, incompreensível.
Sinto-me claustrofobicamente ao teu lado, aguardando o que não ocorrerá.
O quanto tal estatiscidade me incomoda!
Depois de nove dias entro naquele corredor. A sala de trabalho nunca esteve tão fria. Apenas reflexo da tua lívida face.
Estou de luto por um amigo. Não sei por quanto tempo, pois o luto me chama e eu não sou mais o mesmo.
Estou de luto por um sonhador, tal como eu, de sonhos cintilantes, que resplandecem do talento.
A roda-viva do mundo girou. Questionamentos, tristeza, vazio, nada o fará mover-se. Apenas tuas ideias podem permanecer vivas enquanto estiverem naqueles que as lembrarem e perseguirem.
Agora você é equilíbrio e muitos de nós desajuste.
Estou de luto, não sei por quanto tempo, talvez até desvendar o mais óbvio e intrigante sortilégio da vida.
Jovens não deviam morrer.



Texto escrito nove dias após o falecimento do amigo e colega de iniciação científica, Luiz Eduardo (29/08/2005).

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