Sobre o filme "A noiva cadáver", de Tim Burton


E quando o outro lado é apenas uma parte de si?

A realização, o cumprimento de uma etapa. Expor nossas entranhas da forma mais verdadeira possível. O que somos afinal senão um cabide de ossos? Perscrutamos as esferas do eu sem saber que pura e simplesmente nossa consciência não passa de uma minhoca na cabeça. Talvez seja vaidade. Afinal, não podemos ser apenas desta vil matéria. Temos que nos equiparar aos deuses, nos tornar espectros, vagar mundos fluidamente como o ar. Temos que ser eternos.

Somos eternos, mas no carbono. E nesta vida carbonada em duas vias não posso dizer qual é a cópia ou a original. Se a morte representa descarregar pesos das escápulas, prefiro a versão soul de Tim. Nos embebedar com veneno e sacudir o esqueleto com corpos semi-serrados.

E o enlace? O que representa um casamento senão anseio à geração de vida? E qual paradoxo maior senão casar com a morte? (fato bem frequente, inclusive)
E não há outra forma de fazer manutenção dos mortos sem que os vivos não se reproduzam, afinal, cadáveres não podem fazê-lo. Então, manter a população per capta dos cemitérios é nosso nobre dever, mesmo com o severo risco de assinar compromissos tácitos que comprometam toda uma vida.

Intrigante mesmo no filme foi encontrar compaixão em apenas alguém muito tempo depois de morto. Os vivos cuidando apenas de si e nossa pobre noiva cadáver, assassinada por ambição, abriu mão de seus sonhos após putrefar nobremente. A única alma generosa se fez apenas como defunto.

E para trazer sentido ao filme, minhas minhocas ecoam a música otherside de Red Hot Chili Peppers. Não há nada melhor que deslisar para o outro lado. Selar nosso pacto com a Morte generosa e benfazeja, sempre disponível quando precisamos.

Que horror... kkkk

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