Sobre o filme "X-men the first class"


Um filme advindo das famosas comics do X-men enfatiza a mais bela das frases, a qual representa o ápice do senso de justiça e a definitiva derrocada das perversas leis da natureza: - Posso não concordar com nenhuma palavra do que disseres, mas lutarei até a morte pelo seu direito de dizê-las.

Antes da revolução francesa ainda vivíamos, a bem dizer, num amálgama entre o  "crescei e dominai" e "olho por olho, dente por dente", e sempre sobrou uma unanimidade de cegos ou dominados.

Porém, evidentemente, nossa condensação de energia nesta forma de matéria ainda nos submete às leis da física e da natureza. Um sonho dos autores foi ilustrado exatamente por romper, ou superar tais leis ao criar seres míticos com poderes modernos e mutações que até Deus duvidaria, afinal, soltar laser pelo corpo vai além de qualquer imaginação das infinitas tentativas randômicas que a natureza faz em rearranjar moléculas e selecioná-las com a graça da competição e transmissão dos genes.

A polaridade entre o professor Xavier e nosso poderoso amigo do metal é possivelmente uma das mais belas relações criadas pela ficção. Profundos amigos, absolutamente inteligentes e sagazes, partidários de causas diametralmente opostas. E ao longo do tempo se defrontam respeitosamente num combate que envolve um aliado e, ao mesmo tempo, inimigo em comum: nós.

Neste conflito eu não consigo me posicionar. Os argumentos de ambos são bons. Em nossa mórbida história tivemos que travar guerras com os que acreditáramos serem brutos e inferiores. Assim, o Homo habilis deve ter extinto o Homo herectus, os H. sapientes os Neandertais até a próxima evolução nos destruir*. Não houve conciliação de hominídeos de espécies distintas. E se existe uma espécie com mais habilidades de sobrevivência é natural que extinga as inferiores. No entanto, a fração de sapiência que nos constitui, nos ensinou o respeito às espécimes e provou que o melhor para todos é manter os biomas trazendo equilíbrio aos ecossistemas. Assim como a retirada de Israelenses da faixa de Gaza traria paz ao local, os mutantes poderiam ter direito a tomar um pais para si, ou mesmo conviver pacificamente no mesmo ambiente que os humanos. A segregação é apenas quebrada com pelo menos três gerações. Assim, quem cresceu sob cometários racistas não mais os fará para seus filhos, os quais terão netos que sequer farão ideia deste preconceito.

Mas essa convivência pacífica é ameaçada pelo grande poder que deveria ser contido para não haver incômodas desproporções. E, assim, pediria-se aos mutantes para negar o que são, e de fato a maioria não conseguiria. O poder em si é sedutor e deveria ser estimulado, caso contrário, o ser entra em depressão. Eis o paradoxo. Apenas uma das espécies pode ser feliz.

E, dividindo essas bandeiras, não posso deixar de narrar a beleza da amizade entre águia e o boi. Vou alterar um pouco o exposto no livro "o corpo fala", de Pierre Weil, para traçar minha metáfora. A águia representa o espírito vencedor, altaneiro. Sua visão superior prega instintivamente a sobrevivência pela caça. Escolhe placidamente sua presa, e tenta fazer com que ela sequer conheça sua existência, pois não se importa com isso, subjuga-la não é importante. Apenas basta que ela esteja fatalmente em seu bico. Já o boi tem sua superioridade no espírito contemplativo, passivo, o qual entende a ordem natural das coisas e respeita o espaço metafísico de cada existência. Luta, mas não para destruir, apenas para manter a si e aos seus. Devolve o que retira da natureza e atravessa mundos, vivendo e vendo muito mais coisas do que a águia, a qual passa rápido demais pela vida. A águia é um cometa, o boi o sol. Assim, Magneto e o professor-X, respectivamente, representam os mais nobres dos tipos humanos, as mais poderosas forças. Juntos poderiam puxar qualquer ponta deste cabo-de-guerra e vencer, mas inerentemente, como ocorre no homem, uma das características, seja de boi, seja de águia, deve vigorar.

A produção do filme é impecável, fiel. Explica muito e para quem gosta, como eu, desses super poderes forçados, deve ser obrigatoriamente visto. E quem não gosta deve assistir pois histórias que envolvem contextos da guerra fria ou das guerras mundiais, também são obrigatórias. A única pergunta que ainda ficou seria a origem do capacete que barra pensamentos. Como foi feito, afinal?

Talvez esteja me posicionando agora, pois jamais devemos esquecer que nos últimos milênios em que uma determinada fatia dos homens se julgou a raça ariana, as coisas desandaram. O palavra do século é tolerância. E eu creio que toda espécie tem direito ao seu lugar, e vou alem. Não existe evolução absoluta, dado que não há superioridade em todas as características, apenas nas poucas escolhidas para segregar as espécies.


*se algum pesquisador da área vir que eu estou falando besteira por favor me corrija.

Nenhum comentário:

Postar um comentário