Uma prosaica caminhada, dentre tantas outras que perfazem suas produções e desaguam no fantástico. Entusiástico encontro com ambientes e artistas que derretem nossa imaginação, fusão impossível, vivenciar mundos em viagens no tempo. Dissecar suas almas invejaria qualquer anatomista. Porém somente os da mesma espécime podem se entender. Assim cabe aos escritores explicarem os escritores, pintores pintores, atores atores e assim por diante.
Personagens caricatas surgem na Paris da década de 20, mais reais que nosso confortável californiano 2010, contemporaneidade sem vanguardas mas pra lá de retrô. Ao tentar viver no passado o idealizamos, tornando-o certamente o lugar preferível, prisão nesta terra de viventes, afinal, muitos confortam-se em estagnar o paraíso no intangível seja no outrora ou no devir.
Fascinante o vigorar do desimportante como importante. A compra de uma cadeira para a casa de praia ganha foco, enquanto a infidelidade recém confessada sequer franze o senho do traído, cobrado pela notória ausência e impelido a manter o plano saindo do mundinho surrealista para a derrocada na vida pragmática. Afinal, o que é mais real, a poesia ou as contas a pagar? Tudo fica no papel afinal de contas, né? Envólucros materiais...

E para amar é preciso não ter medo da Morte. Brindar com a Bela companheira na campanha de uma sórdida guerra qualquer. Os covardes não amam. Amar requer coragem. Disparar contra uma fera avançando mortalmente em seu pescoço. Pintar rinocerontes. Ser a pantera de Augusto do Anjos, "...se ajoelhando, rendida ao eflúvio do teu seio casto". Concentrar o universo no contato de epidermes, no cruzamento de rimas e esquecer da vida para perder o medo da morte. Este amor em palavras justifica tudo. Desisto, melhor ser puro ato.
Título original: (Midnight in Paris)
Lançamento: 2011 (EUA, Espanha)
Direção: Woody Allen
Atores: Owen Wilson, Rachel McAdams, Kurt Fuller, Mimi Kennedy.
Duração: 100 min
Gênero: Comédia Romântica
Status: Em cartaz
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