Aqueronte seco


Deixo-te no exílio da minha ausência.
Levo-te comigo onipresentemente.
Bruta flor a te querer, anuência.
Falácia, sem sono e dormente.

Buraco inventado que seduz.
No vão abrigo inexistente
Do alvitrado sentimento que reluz,
Seu espectro transcorre penitente.

Recíproca morte proposta,
Cujo coração seco bate só.
Viga dardejada exposta.
Ecoa no vago, lancinante curió.

Penetra nas entranhas virgens.
Choraminga guitarra, juventude atávica.
Petrifica neste amor miragens,
O sentir enobrece como mágica.

Sou completo, tu não és, fenômeno.
Vivifica, alumiando o precipício.
Ador cujo prazer em coração nascido
Navega o Aqueronte rumo ao Elísio.

Textos complementares:
Mediastino
completude na incompletude
Sublimação
Sobre "Noites brancas", Dostoiévki

Nenhum comentário:

Postar um comentário