A morte do adulto e a venda da juventude

Com a invenção do modelo contemporâneo da juventude nos anos 60-70 nos defrontamos com um sedutor panorama onde todos querem ser jovens. Hoje, apenas não são as crianças em tenra idade e os velhos bem prostrados. Ou seja, em limites extremos a juventude pode iniciar aos 10-12 e terminar aos 80, p.ex.


Para deixar claro, quando digo jovem falo do modelo que envolve toda uma temática de vida em que se fazem presente pelo menos duas características que giram em torno de festas, álcool, músicas, moda, estética e eventos caracterizados como "jovens"

E o estereótipo do adulto se diluiu para os nascidos a partir da década de 60. Afinal, essa geração lutou para exercer seu direito a liberdade do deslocamento, do corpo e de opinião, sendo esta última a mais enfática, já que os jovens inerentemente não eram dotados ou não poderiam ter voz. É importante dizer que antes disso provavelmente muitos já se tornavam adultos aos 16 anos e tinham até 2/3 da expectativa de vida que temos nesse início de século XXI. O que podemos levantar do que se entendeu por adulto seria aquele que largou os sonhos juvenis de lado e passou a construir uma vida que gira em torno da manutenção da sua família e prole, sendo permitido poucos prazeres como a cachaça e o futebol. No entanto um bom pai de família adulto deveria voltar diretamente para casa depois do trabalho, sendo mal visto retornao ao lar com ares etanólicos ou odores femininos suspeitos. Melhor ainda se levar seus filhos à igreja aos domingos. Ás mulheres invariavelmente nenhum prazer era lícito.

Foi uma sociedade bastante preocupada com a opinião alheia, afinal, não se conseguiria manter anonimato em função da diminuta quantidade de vizinhos. Sendo necessário exercer uma boa aparência e mostrar bons costumes criando-se uma etiqueta postiça, vigorosamente questionada pelos jovens que a romperam. Todo formalismo deveria ser destruído, incluindo na música, com as dissonâncias do rock, vestimentas com a difusão de estampas psicodélicas, cabelos, vocabulários, etc. Ter a atitude de jovem passou a ser contrariar o comportamento passivo dos adultos. Foi o combate ao cinza dos ternos, graxa dos sapatos e sutiãs em maternos.

No entanto, estes jovens hoje tem a idade dos pais que combateram. Tem filhos e os criaram tentando ser amigos, não sendo pais "chatos". Tiveram que arrumar empregos e vender suas almas para o diabo. Muitos obtiveram sucesso ao conseguir se manter no mundo jovem que criaram. É bastante comum os alto-quarentões em boites, shows, academias, etc. Afinal, os jovens são eles. Eles lutaram contra seus pais para poderem chegar depois das 22h. As meninas fizeram sexo antes do casamento morrendo de medo de represálias sociais ou
religiosas. E as tatuagens? Conquistas com muita luta.

Porém, tudo isso ficou velho. As músicas boas, polêmicas e execráveis são clássicos. E quando queremos ir a um bom show temos que contar com os Beatles, Janis Joplin, Rolling Stones, Caetano, Chico... tudo velho.

E nós, jovens, acreditando ser o padrão, acreditando estar vendendo comportamento, na verdade estamos comprando um comportamento de "velhos". Somos conservadores desse modelo, desfrutamos da total liberdade sem questionar de onde veio e para onde vamos. Sem criar nosso próprio modelo de juventude. Mudamos apenas a roupagem tecnológica para nos sentirmos mais confortáveis. Antropofagia mal feita deste estilo de vida.

E muitos conservadores olham com desdém para esses "peles enrugadas" vestindo preto e tatuagem curtindo uma boa balada. Estes velhos estão sendo o que sempre foram, e nós taxando-os e copiando seu comportamento.

Embora o texto acima seja agressivo, eu prefiro feri-lo contradizendo o que disse. Se hoje subversão significar usar roupa social, falar gramaticalmente correto, ter um bom emprego, não sair e levar os filhos para a igreja aos domingos eu digo que é bem melhor ser conservador e seguir o modelo dos adultos-jovens. Afinal, para que questionar, não é mesmo? Prefiro abdicar de ser jovem, colocar-me a venda com uma venda.

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