Sobre "Lolita", Vladimir Nabokov

Jocoso. Final digno de Dostoiévski ou Machado, coroando nosso pseudoprotagonista com desfecho certamente estipulado por juri popular. Ao narrar atos abominados até os dias de hoje feriu os adoradores da moral atávica. Poderia-se esperar um insano a justificar seu crimes, ou um choque de consciência, mas diante de tamanha ponderação seria postiça qualquer escusa pelo amor que irrompera as leis dos animais sociais, sincero, fiel, obsessivo e uníssono (agradeço pela ilusão). Meu preconceito esperava uma menina ardilosa e ativa. Presenciei apenas uma indefesa sem saída. Não gostara jamais de seu amante (paternal?). Não purificou-se embevecida por qualquer nobre sentimento. Recrutada como serviçal do sexo, apenas teve narrada a não menos dolorosa realidade de outras ninfetas sob suprimidas infâncias. Em pauta homens insanos sob desejos proibidos e uma sociedade que ha pouco vem admitindo a sexualidade infantil e avaliando mecanismos de lidar com isso sem suprimir a infância nem estender ainda mais a adolescência, que hoje frequentemente vai dos 12 aos 35 anos. Anacrônico Nabokov? Talvez nem tanto.

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