Sobre "O cortiço", Aluísio Azevedo

Um naturalismo não tão naturalista, mas retrata fielmente uma época que não findou: brasileiros e neobrasileiros amalgamando-se e formando este estranho país cheio de enleios e oportunidades.

O sensualismo impregnado de odores e rituais marcou a obra com as naturais infidelidades, desonras e outras notórias promiscuidades ou crimes conta a moral de então. Outro combustível que move esta sociedade é o álcool, impelindo em cada tipo de personalidade seus efeitos abrasileirantes. Entre o fado e o samba (bem alá Benito de Paula, diga-se de passagem) destacam-se duas caricaturas, o mulato e seu molejo e o branco e sua altivez transtornada. Misticismo, labuta, ambição, coletividade; retratos da construção deste típico modo de vida tupiniquim. Só faltou o futebol.

O escravismo ainda não acabou, percorre os dias camuflado como a exploração sob baixos salários que mal fazem o povo morar e comer. E já não era com isso que os escravos contavam?

Ao findar, a nega, que fielmente servira, fora lançada como um estorvo sem qualquer linha de expressão na face ingrata, a exemplo da surda lei áurea de 1888 que convenientemente despejou nossos antepassados para a marginalidade substituindo-os por imigrantes que não fizeram sucesso em seus países abarrotados...

Uma cultura problemática e ineficiente, resultado da baixa intelectualidade historicamente impelida ao povo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário