Sobre o filme "Bruna Surfistinha", dirigido por Marcus Baldini.


O que dizer? Será que a autora, ao assistir o filme, obteve a mesma reação que Saramago ao ver a obra de Meirelles? O acaso me levou a este filme. E o mesmo acaso me levou a história da Bruna. Evidentemente desde os templos bíblicos existe uma curiosidade da sociedade em saber o que pensam esses seres míticos que satisfazem os homens no seu simples e diáfano prazer em troca do fruto de um labor que justifica e purifica seus atos testosterônicos. Porém, embora o filme tenha apelo dramático ao didaticamente trazer a questão da sexualidade, prostituição, drogas e bullying (só faltou falar da dengue), foi pobre ao não trazer a tona, em pormenores, o que se passa nas cabeças de quem vende e de quem compra.

A única introspecção que posso recordar foi a de levantar a possibilidade de explicação da fuga de casa com a necessidade de despertar algum sentimento em seus pais, mesmo que ódio ou vergonha. Acho muito pouco para tamanho drama, o que me fez insistentemente perguntar: O que se passa na cabeça da Bruna? Ou será que passa algo pela cabeça dela? Não seria a perfeição uma pessoa passar por fatos tão marcantes e não fazer juízos de porte reflexivo, moral ou transcendental? Será que o turbilhão a levou como passageira, neste mundo que é um moinho? E mesmo transeunte cambaleante ela tenha achado seu lugar ao sol?

O filme vendeu a ideia de que esses sonhos não são tão mesquinhos nem trituráveis. E o sucesso vigoroso da autora (conceituem por si sucesso por favor) corrobora que tudo tem seu preço. Seria taxativo dizer que uma mulher esperta cobra pelo sexo que oferece? E se o preço não for pagamento em espécie? E se o preço for estabilidade? Um casamento? Um apanhado namorado? E se fazer sexo com quem não se ama for absolutamente corroborar a natureza humana? (fisiologismos talvez). Qual diferença existe entre cobrar ou não? Será que devemos supervalorizar o sexo ou banalizar para acender a estátua da liberdade? Se o homem paga pela mulher perfeita que não reclama, escuta tudo e oferece sexo e a mulher recebe para ter seu salão, roupas, carros e outras coisas que lhe importa, diante de qual problema nos defrontamos realmente? - Bom, diriam os ascéticos, precisamos melhorar, então, os valores, mudar os objetivos das pessoas. Mudar a perspectiva de sucesso. Mas esses homens não podem ser levados a sério. Sucesso talvez seja fazer e viver do que se gosta. E a sociedade tem que parar de suprimir seus complexos freudianos e viver sua vida com menos hipocrisia. E daí volto a pergunta: Partindo do pressuposto que nada se passa na cabeça da Raquel (pseudônimo invertido de Bruna), felicidade não consistiria em atingir o ápice da liberdade da não autocrítica superedípica? Viver plenamente conforme nossa natureza? Então para isso temos que ter a sorte de crescer e incorporar os valores certos (talvez os menos auto-destrutivos ou àqueles conforme as convenções sociais).

Eu fiquei com dó da Deborah Secco, de quem sou fã desde o "confissões de adolescente" exibido pela TV cultura de SP. Ela atuou bem e perdeu a chance de ser marcada como a atriz de um grande filme que explorasse as entranhas de uma prostituta. Atuou apenas em um filme biográfico que narrou fatos, focado no apelo sexual da história. Bom filme, decepcionante, mas bem intencionado. Prazer barato (e ainda paguei meia entrada) e corriqueiro, nada comparado a uma paixão, a expectoração da veracidade, por advir do peito e atingir a face da amada.

Máxima: Sexo é sempre por interesse.

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