luzes

O século das luzes acendeu uma vela nesta caverna em que vivemos, porém enquanto a chama estiver acesa corremos o risco de morrer sufocados. É impossível deixar de ficar aturdido quanto Jesus afirma que "bem aventurados são os pobres de espírito pois eles herdarão o reino dos céus". Como assim? Devemos galgar pela mediocridade, ou seja, a campestre simplicidade de gosto para não incorrer nos dissabores da demasiada reflexão? Ora, ao tomarmos consciência de nossa existência percebemos o quanto nosso eu pode estar expresso em si, e quanto nos vemos nos outros e pensamos o que os outros veem na gente. Ainda, vislumbramos tempestuosos pensamentos das perspectivas sociais e sufocamos na fossa dos excessos que incluem tudo o que comemos com os olhos. Em contrapartida, existem aqueles cuja opinião não passa de uma ou duas palavras do tipo "gosto...", "legal...", "chato...". Será deles o reino dos céus?

Voltando ao telúrico, já podemos nos considerar amaldiçoados por ter que processar e triturar a saraivada de informações tentando aliviar nossas consciências conscientes quanto a tomada de decisões supostamente de vida ou morte. Exemplificando temos as eleições... O bom indivíduo amaldiçoado deveria pensar enquanto enfia seu dedo na urna sobre os precedentes históricos desde Dom Pedro I, consequências econômicas do modelo social-democrata, nas perspectivas da sociedade de consumo com a consequente impossibilidade do bem estar social implicar em colocarmos dois carros na garagem de todos os cidadãos, na investigação do passado de todos os governantes e seu histórico de militância (e no fato de todos eles terem sido presos, torturados e deportados) e ainda prever no que todas essas variáveis poderão resultar incluindo a vida pessoal, caráter, terno e o taier de nossos candidatos. Destarte, teremos um voto consciente se twittarmos todos os candidatos, soubermos os planos das coligações e ainda avaliarmos a potencial capacidade de articulação, afinal, "ninguém governa sozinho".

É fato não podemos atingir a onisciência sem sermos atingidos por um raio ou termos partido o corpo caloso. Sempre recorremos a especialistas quanto admitimos ignorância. Obviamente, é mais barato pagar pelo conhecimento dos outros. Nesta tentativa de quantificar o conhecimento torna-se de bom tom recair na máxima socrática em perscrutar o tamanho da cratera de nossa ignorância. Ainda, em termos comparativos, dificilmente alguém terá uma visão suficientemente abrangente sem ser superficial ou especializada sem considerar todos os fatores que envolvem uma questão. Ou seja, toda a opinião é limitada, porém umas opiniões são mais elegantes por provavelmente abranger nuvens e nuvens de conceitos que nada mais fazem que dissipar-se em chuva, incluindo este texto.

Assim, se toda a opinião corre o risco de ser superficial demais ou profunda demais, colocando em dúvida sua real utilidade, não podemos afirmar ao certo qual tipo de opinião é superior sendo a discussão morta desde seu berço, e, poderíamos sofismar dizendo que a melhor opinião é a mais convincente. Na impossibilidade de diferenciar os indivíduos pela opinião ou profundidade de pensamento podemos dizer que todos herdamos o reino da ignorância desde quando mordemos o fruto do conhecimento do bem e do mal. Peço desculpa aos vaidosos que acreditam saber algo a mais que outrem, e repasso a dica de Delfos "Conhece-te a ti mesmo".

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